terça-feira, 2 de abril de 2013

Zé da Luz: um alfaiate que vestiu sua poesia de ritmo e melodia



Humberto de Almeida

Lá íamos nós, A Morena e eu. Dessa vez, porém, passando por Itabaiana, esqueci o Sivuca, pois, os mortos, como todos sabem, não levantam mais, para lembrar de outro nas mesmas condições desse sanfoneiro arretado, como diria outro bom parahybano, o autor de Tudo X-Caçarola, o Dapenha, o desconhecido poeta Severino de Andrade Silva, criador do conhecidíssimo poeta Zé da Luz. Uma beleza! Quem escuta um poema de Zé da Luz, tem vontade de escutar – o bom mesmo é ouvir – outro e depois outros mais. É como o primeiro gole do peregrino sedento na lâmina fina de água que desce da fonte.

Enquanto me dirigia à cidade do poeta, lembrava a Morena do pedido feito por ele a outro parahybano da gota serena, como diria o seu conterrâneo Sivuca, para prefaciar o seu livro. Zé Lins, como sempre, matou a pau: “Você não precisa de prefácios, Zé, a sua prosa fala com mais autoridade que qualquer palavra de apresentação”! Aproveitei, também, para lembrar que antes de saber do comentário do autor do Menino de Engenho, por estas plagas, há muito já havia traçado umas mal-traçadas, onde dizia que certos poetas dispensavam apresentação. E Zé da Luz era um deles!

Mas o que sempre gostei em Zé da Luz foi a sua poesia com gosto de terra molhada; o cheiro gostoso de esterco de boi solto no curral; a brisa soprando macio por cima de versos e rimas; o cantar dos passarinhos e os banhos de rios belos como o meu rio Jaguaribe. Enquanto seguia pelo que resta das poucas plantações que ainda esverdeiam o caminho, declamava baixinho, saboreando o ritmo gostoso de um de seus poemas. E assim, durante toda a viagem, bastava um descuido para me flagrar comendo poesia.

Em Zé da Luz, dizia enquanto caminhava em busca do seu berço poético, canto e saboreio a mais pura das poesias matutas. Zé da Luz não parece procurar a palavra certa para a rima do seu verso. Ela aparece fagueira, sorridente, brincando de esconde-esconde, entre uma palavra e outra. Um improvisador como poucos! Espécie de Pinto de Monteiro mais poético, e de brilho verbal desconcertante.

A espontaneidade dos versos de Zé da Luz só encontra comparação na poesia, também cheia de improvisos, de um Catulo da Paixão Cearense, outro poeta que se deixa levar pelo verso como uma criança, somente confiança, deixa-se levar pela mão de sua mãe. Em nenhum outro poeta poderia encontrar tamanha sensibilidade e pureza no versejar. Por exemplo, versos como “parece que eu tô vendo/Nos teus óio piquinino/Dois vagalume acendendo/Na noite do meu distino”, é puro Zé da luz!

Diminuo a velocidade do carro e, quase parando, encomprido o olhar praquelas verdes margens. Lá dentro, meio as mais diversas plantações de milho, inhame, macaxeira, feijão e outros, deve estar a cacimba onde poeta desejou ser um caçote, em um de seus mais belos poemas (A Cacimba): “Quando eu vejo essa cacimba,/Qui ispio a minha cara/E a cara torno a ispiá/Naquelas águas quilára/Pego logo a desejá… /Desejo, praquê negá?…/Desejo sê um caçote, /Cum dois óio desse tamanho/Pra vê, aquele magóte/De moça tumando banho”.

Finalmente, terra à vista! Estamos em Itabaiana, a terra do poeta e de um povo hospitaleiro! Um povo que não só orienta aqueles que ali chegam e se sentem perdidos, mas faz questão de mostrar o caminho! E, quando possível, guiá-los até um lugar seguro. O seu falar arrastado, os eles sem força e os erres comidos, características essas tão bem observadas pelo Zé Lins, soam gostosos em nossos ouvidos! Foi, sem dúvidas, a fonte onde bebeu o nosso poeta. Zé Lins tinha razão: a poesia desse alfaiate tem luz própria. Nada de prefácios!

 


Um comentário:

  1. Prezado Sr. Fábio Mozart, gostaria de parabenizar o seu honrado trabalho que é divulgar as notícia no seu jornal, e venho por intermédio da População, para a senhoria poderia divulgar o trabalho que foi realizado neste final de semana em São josé dos ramos, da companhia de teatro. Sei que você é um respeitável homem da informação e não poderia deixar os seus leitores na mão, por isso venho lhe fazer essa pequena solicitação.

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