Zé da Luz: um alfaiate que vestiu sua poesia de ritmo e melodia
Humberto de
Almeida
Lá íamos nós, A Morena e eu. Dessa vez, porém, passando por
Itabaiana, esqueci o Sivuca, pois, os mortos, como todos sabem, não levantam
mais, para lembrar de outro nas mesmas condições desse sanfoneiro arretado,
como diria outro bom parahybano, o autor de Tudo X-Caçarola, o Dapenha, o
desconhecido poeta Severino de Andrade Silva, criador do conhecidíssimo poeta
Zé da Luz. Uma beleza! Quem escuta um poema de Zé da Luz, tem vontade de
escutar – o bom mesmo é ouvir – outro e depois outros mais. É como o primeiro
gole do peregrino sedento na lâmina fina de água que desce da fonte.
Enquanto me dirigia à cidade do poeta, lembrava a Morena do
pedido feito por ele a outro parahybano da gota serena, como diria o seu
conterrâneo Sivuca, para prefaciar o seu livro. Zé Lins, como sempre, matou a
pau: “Você não precisa de prefácios, Zé, a sua prosa fala com mais autoridade
que qualquer palavra de apresentação”! Aproveitei, também, para lembrar que
antes de saber do comentário do autor do Menino de Engenho, por estas plagas,
há muito já havia traçado umas mal-traçadas, onde dizia que certos poetas
dispensavam apresentação. E Zé da Luz era um deles!
Mas o que sempre gostei em Zé da Luz foi a sua poesia com
gosto de terra molhada; o cheiro gostoso de esterco de boi solto no curral; a
brisa soprando macio por cima de versos e rimas; o cantar dos passarinhos e os
banhos de rios belos como o meu rio Jaguaribe. Enquanto seguia pelo que resta
das poucas plantações que ainda esverdeiam o caminho, declamava baixinho,
saboreando o ritmo gostoso de um de seus poemas. E assim, durante toda a
viagem, bastava um descuido para me flagrar comendo poesia.
Em Zé da Luz, dizia enquanto caminhava em busca do seu
berço poético, canto e saboreio a mais pura das poesias matutas. Zé da Luz não
parece procurar a palavra certa para a rima do seu verso. Ela aparece fagueira,
sorridente, brincando de esconde-esconde, entre uma palavra e outra. Um
improvisador como poucos! Espécie de Pinto de Monteiro mais poético, e de
brilho verbal desconcertante.
A espontaneidade dos versos de Zé da Luz só encontra
comparação na poesia, também cheia de improvisos, de um Catulo da Paixão
Cearense, outro poeta que se deixa levar pelo verso como uma criança, somente
confiança, deixa-se levar pela mão de sua mãe. Em nenhum outro poeta poderia
encontrar tamanha sensibilidade e pureza no versejar. Por exemplo, versos como
“parece que eu tô vendo/Nos teus óio piquinino/Dois vagalume acendendo/Na noite
do meu distino”, é puro Zé da luz!
Diminuo a velocidade do carro e, quase parando, encomprido
o olhar praquelas verdes margens. Lá dentro, meio as mais diversas plantações
de milho, inhame, macaxeira, feijão e outros, deve estar a cacimba onde poeta
desejou ser um caçote, em um de seus mais belos poemas (A Cacimba): “Quando eu
vejo essa cacimba,/Qui ispio a minha cara/E a cara torno a ispiá/Naquelas águas
quilára/Pego logo a desejá… /Desejo, praquê negá?…/Desejo sê um caçote, /Cum
dois óio desse tamanho/Pra vê, aquele magóte/De moça tumando banho”.
Finalmente, terra à vista! Estamos em Itabaiana, a terra do
poeta e de um povo hospitaleiro! Um povo que não só orienta aqueles que ali chegam
e se sentem perdidos, mas faz questão de mostrar o caminho! E, quando possível,
guiá-los até um lugar seguro. O seu falar arrastado, os eles sem força e os
erres comidos, características essas tão bem observadas pelo Zé Lins, soam
gostosos em nossos ouvidos! Foi, sem dúvidas, a fonte onde bebeu o nosso poeta.
Zé Lins tinha razão: a poesia desse alfaiate tem luz própria. Nada de
prefácios!
Prezado Sr. Fábio Mozart, gostaria de parabenizar o seu honrado trabalho que é divulgar as notícia no seu jornal, e venho por intermédio da População, para a senhoria poderia divulgar o trabalho que foi realizado neste final de semana em São josé dos ramos, da companhia de teatro. Sei que você é um respeitável homem da informação e não poderia deixar os seus leitores na mão, por isso venho lhe fazer essa pequena solicitação.
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