Patos antiga |
QUE NÃO TEM DIHEIRO CONTA
HISTORIA
Nos anos setenta era eu funcionário de uma
empreiteira da extinta Saelpa, a DUARTE LTDA, empresa especializada em redes
elétricas de baixa e alta tensão.
Designado para trabalhar em Patos, lá vou eu de
capacete branco a bordo de um Jeep Willys Overland sem capota, sem dúvidas um engenheiro, e foi mesmo assim que logo,
logo, passei a ser chamado em Patos: Dr. Walter Gois, o engenheiro da Saelpa.
Para abalizar meu “deproma”, percorria eu, a
bordo do Jeep Willys, as linhas elétricas da cidade, sempre olhando para cima
como quem quisesse encontrar algum defeito.
Patos estava tomada pela juventude
universitária, inclusive tinha o Clube Universitário que carinhosamente
chamávamos de CU. Era palco dos mais importantes eventos da época, casamentos,
confraternizações, até mesmo uma simples cerveja o patoense preferia tomar no
CU por ser amplo e arejado.
Pois muito bem, certa feita o CU estava em
festa e eu liso. Sem a menor condição de entrar no CU, pus-me em frente dele
e comecei a matutar um modus operandi de entrada sem atentar ao
pudor.
Absorto nos maus pensamentos, vendo lindas e
jovens mulheres entrando e saindo do CU com a maior simplicidade, ficava me
perguntando porque logo eu, um engenheiro tão famoso, estava ali, sem a menor
condição de entrar no CU.
Vez por outra passava um amigo, pois com a
função fiz muitas amizades importantes, e perguntava: “E aí doutor? Ta
esperando o que? Vamos que vamos!”
Ainda sonhando baixo, me deparo com uma
silhueta gorda e conhecida. Era Hibernom, um camaradinha filho de Patos, Fiscal
da Saelpa e por coincidência, liso que nem eu.
Pedimos dinheiro emprestado um ao outro e
ouvimos a mesma resposta. Ficamos a fitar estrelas quando de repente Hibernon
me olha com os olhos faiscando e diz: “Doutor, vamos entrar na festa e beber do
bom e do melhor e por cima, de graça”, disse-me ele apontando para um velho
poste que pendia pra dentro do CU como que querendo entrar na festa.
--- Vá buscar o caminhão MUNK, - complementou Hibernon.
Sem perguntar, corri ao acampamento que se localizava
em São Sebastião, passei a chave no MUNK e coloquei-o frente ao CU, debaixo do
poste já citado.
Nesse interim, o Hibernom, por ser filho da
cidade e conhecido por todos, mandou chamar o organizador da festa e disse: “Rapaz,
como tu sabes, eu sou fiscal da Saelpa e acabo de receber um telex ordenando
que se arranque esse poste aí da frente agora mesmo, mas sem estresse que o Dr.
Walter Gois faz isso em mais ou menos duas horas e a festa volta ao normal.”
O organizador da festa, que já tinha investido
uma fortuna, quase teve uma hemorragia de fezes e foi logo berrando: “Pelo amor
de Deus, Doutor, isso seria a minha ruina, estou perdido, veja o que o senhor
pode fazer por mim, que eu serei sempre grato, eternamente grato.”
Hibernom temperou a voz de vitória e, em
segredo, disse ao desesperado organizador: “Veja bem, o Dr Walter Gois é um
gozador, gosta de festas, mulheres, bebidas e outras coisitas mais; tente
convida-lo pra festa, dando-lhe cortesia geral, vale a pena tentar, agora não
diga que fui eu quem idealizou isso não, por favor.”
Bom, o resultado foi que entramos de CU a
dentro, montados em potentes Cavalos Brancos, que quando se acabava uma
garrafa, eu chamava o garçom e ameaçava arrancar o poste. Acho que ainda hoje o bicho continua firme, no mesmo lugar.
Vavá da Luz
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