Antigamente, morria de medo da Semana Santa. Minha vó
Joaninha cobria os santos com uns panos roxos, a casinha ficava com aparência
mórbida. Medo do diabo, quem não tem? O diabo é a morte, é o mal, o lado
negativo das coisas, a sombra do abismo sem fim da ignorância.
Conheci um cara que costumava dizer: “não creio em
Deus, eu creio no Diabo”. Como pode crer em um sem acreditar no outro? Deus e o
Diabo são assim como as duas faces da mesma moeda.
Um sujeito chamado Jorginho acha que urge
discutirmos mais sobre essa cultura universal chamada Deus. Até onde faz bem ou
mau à humanidade? A crença num deus tão
violento quanto o Deus da Bíblia reforça a banalização da violência? As
religiões podem se intrometer na vida política de uma sociedade? O que está
sendo feito com o dinheiro do dízimo e para onde ele vai? É correto sermos
obrigados a ouvir pregações em locais públicos, como transportes coletivos, por
exemplo? Existe alguma lei que proíba isso? Jorginho está atarantado com essa
onda de neopentecostalismo ultraconservador que assola o país. Ele e mais
alguns têm medo da construção lenta e gradual de uma sociedade dominada pela
religião, como nos países comandados pelos muçulmanos ortodoxos.
O cara que acreditava no Diabo nunca saiu por aí
pregando sua fé. Se ousasse, talvez morresse trucidado pelos cristãos mais
radicais, esses que queimam terreiros de umbanda e quebram estátuas de santos
católicos. Até quem não crê em nada é visto como inimigo infiel pelos
“talibans” evangélicos.
Marcos Ramos escreveu: “Sim, eu creio no diabo. No
diabo das religiões que matam em nome de Deus. No
diabo dos dogmas romanos que afastam as pobres almas do caminho. No diabo do dízimo evangélico que afasta os pobres do
Altíssimo. Creio, sim, no diabo! Creio no diabo da teologia que tenta explicar o mecanismo
de funcionamento da salvação. Creio no
diabo da idolatria que faz homens se prostrarem diante de imagens de barro
preto e fétido. Creio no diabo das regras,
costumes e modas gospel das milhares de igrejas que surgem a cada dia para
enriquecer espertalhões. Creio no seu
diabo, que agora lendo minha exposição, se contorce de raiva demoníaca
travestida de piedade e com seu pensamento vão me diz: “Coitado!”
Tenho medo de crer nesse Deus dos talibans. Não
sei quais são os efeitos colaterais. Também não creio no diabo, esse “garoto
propaganda” de todas as religiões. Essas entidades nos privam da liberdade com
falsos valores e apegos. Só a liberdade cria.
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