“Mais do que de máquinas, precisamos de
humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem
essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.”
(O Último discurso, do filme O Grande Ditador - Charles
Chaplin)
Felícia é um gênero botânico, plantinha que gosta de terras
úmidas, com florzinhas raio de cor azul e disco amarelo. Plantei um exemplar de
Felícia no meu pobre jardim, viveiro de formigas e ervas daninhas. A Felícia
promete crescer e lançar os alicerces de suas raízes terra a dentro, sem
incomodar as estruturas da casa. Eu me proponho a regar a plantinha e
acompanhar sua evolução, deitando raízes no Jardim Glória, para honra e glória
da beleza e da sofisticação natural.
Numa época em que os defensores dos direitos humanos
quedam-se estupefactos (sempre quis usar essa palavrinha) com a arrogância
fundamentalista de um certo Feliciano, fundo meu vegetal na terra para aí
enraizar, salvando a etimologia da palavra de origem latina derivada de feliz.
Minha Felícia, resoluta e confiante no poder da criação e da beleza natural,
vai crescer indiferente às infelicianeidades ultrajantes à existência humana
cordial e afável.
As flores da Felícia se parecem com as margaridas, com
pétalas azuis violáceas e um coração amarelo brilhante. Desejo semear minha
Felícia em outro jardim, para manter a chama de velhas emoções desalentadas
pelos desencontros desta vida, para fincar o marco onde a cor azul das
florzinhas felicianas lembrará sempre, dia a dia, que aquela semeadura jamais
será efêmera e fugaz, continuará segura e estável pela vida afora, até a
extinção da última semente.
Não esquecerei de regar minha rosa vermelha brotada em
janeiro, porque o jardineiro é excêntrico. Sigo plantando no meu jardim aquelas
flores que se alimentam do lúdico, daquilo que não se pode ver.
Que siga minha Felícia florescendo com exuberância,
venturosa e feliz, fresca e viçosa, símbolo da amizade, afeição, carinho e
ternura do velho jardineiro em pleno esplendor de um quase sexagenário ainda
aspirando o aroma da fé na vida.
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