Quem decide
o jogo na poesia é o acaso. Por acaso, descasquei uma laranja incomum pensando
que era do tipo Mimo do Céu. Polpa avermelhada, descobri que seu nome era
pomarola, ou laranja-romã. Quem me garante é o jornalista Dalmo Oliveira,
servidor da Embrapa, que desenvolve pesquisas agrícolas. Essa combinação de
espécie estranha e acaso deu o mote de um poemazinho que por sua vez deu capa
para meu livrinho de poesia, a sair talvez em outubro, ou antes, dependendo dos
triunfos e derrotas desta vida nossa, um campeonato eterno que, no fim, acaba
sem vencedor, aliás, finge que acaba.
Tirando
proveito do fato de não ter obrigação de vender, porque livro de poesia não se
vende, apenas se oferta como cortesia aos amigos, e nem todos aceitam, vou
editar o livrinho na base do amadorismo, com a ajuda de coleguinhas como a
artista plástica Jandira Lucena, que bolou a capa. No miolo, poesia
experimental, vida experimental, arte das palavras, livres umas, aprisionadas
outras, quebrando alguns códigos literários e confirmando outros. O bom é isso: a panela é minha e eu cozinho
nela o que quiser e como quiser.
As algemas
arbitrárias da arte poética e da vida mercenária não contagiam meu livrinho. Incluo
nele poemas que considero minhas obras primas, ou parentes próximas, publicadas
há dez ou vinte anos, como a belíssima “Cabeça de mulher na pia”. Essa poesia
me deu uma vergonha alheia em certa ocasião, que nem te conto! Uma feminista,
dessas masculinas em seu pensar e ver o mundo, deu com os olhos no título do
poema e agrediu na hora:
--- Esse
povo não respeita as mulheres, pensam que lugar de mulher é na pia lavando
cuecas sujas dos machos.
A arte de
ser imbecil não é apanágio só dos machos. Admiro esse povo que não tem medo de
ser ridículo nem passar recibo de idiota.
Mas, deixa isso pra lá. Quero cultivar meu pomar de laranjas-romã e
ofertar aos leitores possíveis e impossíveis. Afinal, semente se joga em qualquer
terreno. Se vai germinar, aí é com o acaso, o mesmo que me apresentou à toranja
ou “laranja de sangue”.
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