Atualizei meu título de eleitor. Sou um falso cidadão da cidade
de Cabedelo (na realidade, moro em João Pessoa, mas disfarço como residente em
Cabedelo para justificar ausência na eleição). Gostaria de deixar bem claro que
essa arrumação é do conhecimento da Justiça Eleitoral e não deverá me trazer
futuros problemas com a lei. Ao que parece, a lei eleitoral tem um conceito de
residência diferente do senso comum. O prefeito da sua pequena cidade, por
exemplo, ele mora aí? Mora na capital, todo mundo sabe que ele só vem ao
interior na sua reluzente Hilux cabine dupla nos dias de depósito do Fundo de
Participação dos Municípios, para assinar os devidos cheques e acertar os
detalhes com o contador. O que vale é o domicílio eleitoral registrado no cartório.
Bom, mas o que eu quero dizer é que não sei o que se passa
comigo, que resolvi votar na eleição de deputado, senador e governador. Estou à
procura de bons candidatos. Deve ter algum político sério escondido em algum
porão secreto, relutando em dar as caras, com medo de ser apedrejado ou
assediado por eleitores pidões. Camarada meu disse que conhece um político
honesto, de palavra, boa praça e competente. Mora na sua rua. Encaixa
perfeitamente no meu perfil de candidato ideal, só que ele não pode ser candidato
a nada. Não é filiado a partido político, e, se fosse, não poderia ser
candidato porque o “dono” do partido só aceita paus mandados, xeleléus e gente
de confiança da grande “famiglia” para concorrer nas suas chapas.
Permanece minha busca. Onde encontrar um bom político? Alguém
comenta que esse raro vivente talvez possa ser encontrado nas agremiações
partidárias de esquerda. Acho uma roubada. Se tem alguma coisa que aprendi
nessa vida, é a exatidão daquele ditado que diz que o poder é como violino: se
toma com a esquerda e se toca com a direita. De forma que acho improvável sair
alguma coisa que preste desse lugar insalubre que é o ambiente político
eleitoral.
Sou um péssimo eleitor, cheios de opiniões irritantes sobre os
políticos, metido a honesto quando, na verdade, sou é brasileiro com tudo o que
isso significa de jeitinho malandro, pequenas safadezas, vivacidades ligeiras
no varejo e golpinhos de otário que pensa ser o fodão, a começar do meu falso
domicílio eleitoral. Ninguém é vestal nessa urna eleitoral indevassável, sendo
que a própria urna, a eletrônica, é tão confiável quanto os números daquela
cidadezinha que tem mais eleitor do que habitante. Num país onde presidiários
comandam esquemas eletrônicos de roubo de senhas e créditos de celular, quantas
apropriações indébitas de votos não foram praticadas nessas urnas?
Portanto, acabou minha busca. Candidato bom, só na propaganda. Mesmo
porque o político é reflexo da sociedade. Não tem mágica que produza bons
políticos com o tipo de eleitores que temos. E não se trata de complexo de vira
lata.
Adoto o voto inútil solidário, marcando na chapa do meu compadre
Dalmo Oliveira, candidato a deputado federal com chance zero de se eleger, mas
com folga de sessenta dias para promover a campanha, em meio a muitas
confraternizações e atos públicos e notórios de pura farra eleitoral.
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