sexta-feira, 4 de julho de 2014

Onde posso encontrar um bom político?




Atualizei meu título de eleitor. Sou um falso cidadão da cidade de Cabedelo (na realidade, moro em João Pessoa, mas disfarço como residente em Cabedelo para justificar ausência na eleição). Gostaria de deixar bem claro que essa arrumação é do conhecimento da Justiça Eleitoral e não deverá me trazer futuros problemas com a lei. Ao que parece, a lei eleitoral tem um conceito de residência diferente do senso comum. O prefeito da sua pequena cidade, por exemplo, ele mora aí?  Mora na capital, todo mundo sabe que ele só vem ao interior na sua reluzente Hilux cabine dupla nos dias de depósito do Fundo de Participação dos Municípios, para assinar os devidos cheques e acertar os detalhes com o contador. O que vale é o domicílio eleitoral registrado no cartório. 

Bom, mas o que eu quero dizer é que não sei o que se passa comigo, que resolvi votar na eleição de deputado, senador e governador. Estou à procura de bons candidatos. Deve ter algum político sério escondido em algum porão secreto, relutando em dar as caras, com medo de ser apedrejado ou assediado por eleitores pidões. Camarada meu disse que conhece um político honesto, de palavra, boa praça e competente. Mora na sua rua. Encaixa perfeitamente no meu perfil de candidato ideal, só que ele não pode ser candidato a nada. Não é filiado a partido político, e, se fosse, não poderia ser candidato porque o “dono” do partido só aceita paus mandados, xeleléus e gente de confiança da grande “famiglia” para concorrer nas suas chapas.   

Permanece minha busca. Onde encontrar um bom político? Alguém comenta que esse raro vivente talvez possa ser encontrado nas agremiações partidárias de esquerda. Acho uma roubada. Se tem alguma coisa que aprendi nessa vida, é a exatidão daquele ditado que diz que o poder é como violino: se toma com a esquerda e se toca com a direita. De forma que acho improvável sair alguma coisa que preste desse lugar insalubre que é o ambiente político eleitoral.  

Sou um péssimo eleitor, cheios de opiniões irritantes sobre os políticos, metido a honesto quando, na verdade, sou é brasileiro com tudo o que isso significa de jeitinho malandro, pequenas safadezas, vivacidades ligeiras no varejo e golpinhos de otário que pensa ser o fodão, a começar do meu falso domicílio eleitoral. Ninguém é vestal nessa urna eleitoral indevassável, sendo que a própria urna, a eletrônica, é tão confiável quanto os números daquela cidadezinha que tem mais eleitor do que habitante. Num país onde presidiários comandam esquemas eletrônicos de roubo de senhas e créditos de celular, quantas apropriações indébitas de votos não foram praticadas nessas urnas?  Portanto, acabou minha busca. Candidato bom, só na propaganda. Mesmo porque o político é reflexo da sociedade. Não tem mágica que produza bons políticos com o tipo de eleitores que temos. E não se trata de complexo de vira lata. 

Adoto o voto inútil solidário, marcando na chapa do meu compadre Dalmo Oliveira, candidato a deputado federal com chance zero de se eleger, mas com folga de sessenta dias para promover a campanha, em meio a muitas confraternizações e atos públicos e notórios de pura farra eleitoral.

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