quarta-feira, 30 de julho de 2014

Diário de um reumático

Examinando o violão Folk, presente do mestre Pedro Osmar

Googleando receitas e tratamentos para inflamação nas juntas. Tentando ler livro de contos temáticos sobre a roupa de D. Pedro, o Imperador que comia as mulheres, mas não mexia com as partes pudendas da Nação. Mexendo nos arquivos mortos, onde desencavei um soneto do meu pai sobre a morte de minha vó.

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Estudando lances de rádio popular para alinhavar plano de aula, promovido a professor que fui pelo compadre Dalmo. Achando uma merda esse lance de falta de mobilidade. Pedindo ao compadre Marcos Veloso para pegar o violão Folk de Pedro Osmar, doado ao Ponto de Cultura. Uma relíquia, do tempo do movimento musical e poético Jaguaribe Carne, onde nasceram feras como Adeildo Vieira e Chico Cesar.

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Pensando na produção da peça “Zebra do primeiro ao quinto”. Comendo castanhas e amendoins, bebendo chá de canela, gengibre, chá verde e hortelã. Sofrendo com duas horas de aplicação de argila e ervas medicinais nos joelhos com artrose, e vendo o jogo do Náutico, isto é, sofrendo duas vezes.

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Testando bengala de alumínio ajustável para necessidades de locomoção. Juntando tralhas, roupas velhas e calçados idem para o rapaz do reciclado, tentando evitar aquela sensação de perda ao ver meu velho blusão de general sair pela porta afora, como enjeitado. Querendo que tivesse rompido os ligamentos do joelho, em vez desse desgaste degenerativo das articulações. Ansiedade no grau médio.


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Impacientando-se até o limite do improvável. Acordando às quatro da madrugada para conferir a hora, despertando de recorrentes sonhos ferroviários. Perdendo a cadência da vida pela falta de mobilidade. Definhando a cabeça e crescendo a barriga. Voltado a sonhar paisagens inacessíveis e rimas irrealizáveis. Tomando o veneno homeopático da deprê.



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