terça-feira, 22 de julho de 2014

A União de Artistas e Operários

         
Daciano Alves
Desde o final do século XIX a vida operária no Brasil era muito precária; o operariado enfrentava a vida entre as péssimas condições de trabalho e as difíceis condições de habitação. Grande parte dos operários que lutavam por melhores condições de vida e de trabalho no início do século XX no Brasil eram migrantes nascidos na Europa, principalmente italianos, que traziam na consciência alguns conhecimentos políticos.
     Com grande impulso nos primeiros anos do século, em 1906 foi organizado o Congresso Operário que deu origem à “Confederação Operária Brasileira – COB”. Desta forma, o movimento político e sindical dos trabalhadores estava sob os ideais anarco-sindicalistas. Movimento este que perdurou aproximadamente até 1920. Sendo que um dos principais instrumentos de organização social das várias correntes anarquistas eram os jornais impressos e principalmente o apoio na arte teatral.
     Nesse caso, o teatro era uma arma estritamente política. Em suas encenações combinava peças clássicas de teatro libertário europeu, dramatizando o cotidiano dos trabalhadores e enfatizando seu papel na sociedade capitalista.
     Foi especificamente em função daquele congresso que se começou a criar no Brasil uma série de associações que ficaram mais conhecidas como “União Operária”. Para se ter uma idéia basta dizer que desde o início do século até o ano de 1922 foram fundadas aproximadamente noventa e nove Uniões Operárias em todo o território nacional.
     As Uniões Operárias foram desde fins do século XIX se proliferando e nas primeiras décadas do século XX já havia muitas sociedades operárias no Brasil, principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, em função das emergentes indústrias que iam surgindo nessas regiões. Essas sociedades promoviam espetáculos lítero-musicais, encenavam peças e promoviam conferências sobre temas relacionados à vida cotidiana de sua clientela.
     O próprio teatro era tido como uma das principais armas da luta operária, pois que seu objetivo era apresentar temas que fossem comprometidos com a realidade do grupo, enaltecendo a capacidade que o homem tem de transformar o mundo. Teoria esta que estava sendo estudada e desenvolvida em função das pesquisas e investigações sobre o teatro dialético do alemão Bertolt Brecht.
     Essas sociedades operárias tinham raízes anarquistas e possuíam sempre um meio impresso de divulgação de sua ideologia política. Jornais que eram denominados como “A Época” no Rio de Janeiro; e “A Lanterna” e “Echo Operário” em João Pessoa.
     Nesse período a cidade de Itabaiana possuía o “Curtume Santo Antonio” que concentrava grande parte de operários do município e exportava seus produtos para outras cidades do Brasil e alguns países da América Latina. Com sua famosa fábrica de curtir couros Itabaiana não podia ficar de fora desse rol daquelas cidades brasileiras e também fundou a sua “União de Artistas e Operários”.
     É certo que a implantação da ferrovia em 1901 paralelamente à instalação do Curtume Santo Antonio nesse período, foram os principais fatores que fizeram o grande desenvolvimento da cidade de Itabaiana nas primeiras décadas do século XX. Os últimos quatro presidentes da União de Artistas e Operários de Itabaiana foram: Daciano Alves de Lima, José Batista, Manoel Leite de Melo (Neco Frizo) e o comerciante, Herbert de Oliveira.

(Do livro "Itabayanna - entre fatos e fotos - de Romualdo Palhano)

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