Dona Dida em
cartaz de campanha na década de 70
O
historiador Sabiniano Maia, em seu livro “Itabaiana – Sua história, suas
memórias, de 1977, registra os chefes políticos da cidade desde 1817, quando o
manda-chuva do lugar atendia pelo nome de João Batista Rego Cavalcante de
Albuquerque. Depois, sucederam-se políticos mandatários como José Luiz de
Araújo, João Elias Vascurado, Enéas Pedro de Sousa, Heráclito Cavalcanti
Carneiro Monteiro, Odilon Maroja Ribeiro Coutinho, Flávio Ribeiro Coutinho e
Fernando Pessoa. Em 1930, com a Revolução, acabaram o cargo de Chefe Político,
mas restaram os políticos que lideram facções e são “donos” de expressivas
votações durante muito tempo.
O Chefe
Político, antes da Revolução de 30, era “o todo poderoso de uma comunidade,
cujo mandonismo veio da Colônia, atravessou o Império e só se extinguiu na
República”, conforme Sabiniano. Em toda cidadezinha reinava um chefão que
“casava e batizava”. Depois do chefe político, as maiores autoridades eram, por
ordem de importância, o coletor de rendas, o delegado, o juiz e o promotor
público. Geralmente, o Chefe Político assumia os cargos de coletor e delegado,
isto é, recolhia os impostos e mandava prender quem não rezasse na sua
cartilha. O comerciante que não votasse com o Chefe, ele aumentava o imposto
até o cabra mudar de ideia ou se mudar para outro terreiro. Se reclamasse
muito, o delegado, que era o próprio Chefe, metia o insolente no xilindró. Ele
era a lei e a ordem. Era quem indicava o juiz e demais autoridades que comiam
na sua mão.
Depois desse
período, tivemos chefes políticos informais, políticos que assumiam liderança
por conta do seu carisma. O ex-prefeito José Benedito da Silveira foi o maior
deles, o que mais empolgou o povo de sua época, tido e havido como um populista
carismático. O médico Antonio Batista Santiago também marcou época em Itabaiana,
liderando a facção mais à direita do espectro ideológico local. Depois dele,
sem dúvidas foi dona Dida a chefe política que mais ocupou o espaço de poder
com seu dom especial de liderança. Foi a primeira e única mulher a exercer esse
papel na terra de Josué Dias de Oliveira, irmão de Sivuca. O ex-prefeito Josué,
o “Urubu Rei”, foi um advogado condutor de massas, mas sem aquele toque de
ganância e sofreguidão pelo poder que caracteriza o verdadeiro chefe político.
Eurídice
Moreira, dona Dida, começou a gostar do poder quando seu marido, Aglair, foi
prefeito do lugar. Sem muita propensão para o cargo, Aglair deixava com sua
mulher as tarefas de arregimentar apoios e articular os conchavos partidários.
Com inteligência e simpatia, ela foi agrupando amigos e admiradores,
conquistando estima através de ações sociais. Com forte presença, dona Dida
empanou a figura do marido. Quem mandava, na realidade, era ela, uma pessoa
cujo carisma ajudou a construir uma massa de eleitores fiéis. Com a morte do
marido, assumiu de vez o papel de Chefe Política. Foi deputada e prefeita.
Ainda hoje divide as lutas partidárias em Itabaiana. Lá, só se conhece o
partido de dona Dida e o PMDB, controlado pelo atual prefeito, Antonio Carlos
Rodrigues de Melo Júnior. O restante do universo político local gira em torno
dessas oligarquias.
Dona Dida foi a primeira mulher a assumir o cargo de
prefeita em Itabaiana, por duas vezes. Segundo o
professor Jaldes Menezes, as mulheres tem ocupado espaço na política, mas ainda
há o aval da figura masculina. “Nessas relações ainda há resíduos da supremacia
do homem como chefe político, um resquício da velha sociedade patriarcal”,
conclui. Em Itabaiana, dona Dida superou esse estigma, para o bem ou para o
mal. Ela é do tipo que manda flores aos amigos, mas não titubeia na hora de
detonar os inimigos, comportamento próprio de um verdadeiro chefe político. Outro
dia, um “didista” afirmou, orgulhoso: “Dilma Roussef é a segunda mulher mais
poderosa do mundo, mas, para nós, itabaianenses, dona Dida é a mais poderosa.”
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