Ricardo Alves é o
nome da fera. Uma fera mansa, cordata, amiga da paz. Não ta nem aí para os
conflitos, desentendimentos e vaidades do mundo. Quer mais é alegrar as
pessoas, abraçar os amigos e sonhar com seu primeiro filho que está sai, não
sai.
Conheço a figura há
muito tempo, desde 1988 quando fui morar em Mari. Acabei por incluir Ricardo em todas as
“brincadeiras” que inventei na cidade. Foi ator no meu grupo de teatro e
locutor na rádio comunitária que criamos.
“Gente é pra
brilhar”, disse o poeta russo Vladimir Maiakovski. “...e não pra passar fome”,
acrescentou o também poeta Caetano Veloso. “Gente também é pra viver em paz”,
deve pensar meu compadre Ricardo. Feliz é o cara que consegue viver
delicadamente no meio do ribombar dos trovões da maledicência, rancor, inveja e
atritos políticos. Assim é e assim foi meu compadre. Não presta atenção no que
os outros têm de ruim. Concentra-se nas belezas de cada ser.
Sua profissão é
cuidar dos outros. Dos que não têm riqueza, prestígio. Ricardo dedica sua vida
a pesar meninos raquíticos, dar vitaminas para os velhinhos fracos, dar
conselhos para as mães e receitar verminose para moleques barrigudinhos. De
manhã cedinho sai pelas ruas pobres de sua Mari, visitando os amigos, proseando
com um e outro, rindo e levando sua alegria espontânea, a mesma que difunde no
rádio, no seu programa.
Em Mari, como de
resto em toda cidadezinha do interior, tem aquela guerra insanável entre a
situação e a oposição. Cada um querendo ocupar seu espaço de poder, o mais das
vezes de forma mesquinha e conforme interesses pessoais inconfessáveis. A rádio
comunitária, como sendo uma mídia que se quer democrática, é a caixa de
ressonância dos conflitos paroquiais. No meio disso tudo, Ricardo Alves navega
em mar calmo. Amigo de todos, não quer papo de desavença.
Alguém já pensou
assim: o mundo só anda porque existe a dialética, as forças contrárias se
atraindo e se repulsando. A vida é pluralidade, a vida é democrática por
natureza. Mas, e sempre existe um porém, notai que precisa ter aquele veludo entre
dois cristais, aquelas pessoas que nasceram para equilibrar o mundo com sua
vida dedicada à paz e ao entendimento. Ricardo Alves é uma dessas pessoas que
amam a humanidade tão delicadamente que nem abalam o sistema e tampouco alienam
com sua humildade.
Ricardo Alves é um
personagem que deveria estar no meu livro “Mari, Araçá e outras árvores do
paraíso”, mas que certamente estará na próxima edição.
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