sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Quem lê poesia neste país?


Arte de Jandira Lucena para a capa do meu livro
 “Balada do cavalo Mamão  seu cavaleiro andante”
 

Quem lê alguma coisa na república bananeira cínica sindicalista socialista das elites reunidas? Quase ninguém. Mesmo assim, todo dia saem poetas de suas casas com seus originais debaixo do braço para tentar publicar. Às vezes conseguem. Jogam na internet, fazem cópias para distribuir, poetas vagabundos como eu, poetas crentes como Antonio Costta, poetas estilo “testemunha de Jeová”, daqueles que vendem seus livrinhos de porta em porta, enfim, esses artistas da palavra são abundantes, mas o mistério continua lá: quem lê poesia?

Para escrever poesia, é preciso ler poesia e saber onde se encontra a essência dessa forma de expressão. Muitos confrades não ligam pra isso. Têm a certeza de que nasceram com esse dom de formar imagens com palavras e danam-se a escrever seus lirismos, suas dores, seus amores e seu orgulho de poeta. Enchem o peito ao ouvirem: “ali vai um poeta”. No entanto, a espontaneidade do artista da palavra se acaba quando é na hora de distribuir sua obra. Não se vende poesia nas livrarias. A única forma poética engolida com prazer pelo povão é a literatura de cordel, mas isso mesmo saiu de moda há tempos.

Escrevi um livrinho de poemas em 1998 chamado “Pátria armada”. Levei exatos dez anos para desovar os 500 exemplares. Essa arte de linguagem é mesmo ruim de passar adiante. Faltam-nos leitores até mesmo na família. Meus filhos, por exemplo, jamais abriram um livro meu. E olhe que, no meu livrinho, fiz um poema em homenagem à filha única. Mas é isso mesmo. Como diz o outro, a poesia é uma arte da solidão. O criador e sua cria, suas palavras e intenções devem ficar mesmo num círculo restrito, tenha ou não qualidade literária. A poesia, na sua capacidade de dizer o indizível, segue sua rota de colisão com a lógica do mercado e a alienação geral do público. E seduzindo os que sonham em jogar pedras de protesto com meiguice na ternura, enfiando lâmina afiada na opinião, conforme a visão de mundo de cada um.

Sou reincidente confesso. Vou publicar outro livro de poesia chamado “Balada do cavalo Mamão e seu cavaleiro andante” pelo selo SARVAP, uma editora fantasma como esse cavalo perdido na noite brumosa da fantasia. Já pensando em alguns truques para passar adiante os exemplares da obra. Tem um que meu amigo picareta Ameba ensinou: peço dez reais emprestados ao amigo. Quando ele me passar a grana, dou o livro como pagamento. Tem a história real daquele poeta que presenteou uma amiga com seu livro de poemas na brincadeira do “amigo secreto”. Sua “amiga” até hoje chora de raiva.

Um comentário:

  1. Fabio, poesia faz parte da literatura mundial. A poesia é a forma mais espontânea de um sentimento. Um poeta é um artista literário, sabe condensar numa pequena junção de versos uma historia que seja um desabafo, uma tragédia, um conflito pessoal, e principalmente uma forma de amar. Sou fanático por poesia, tenho admiração profunda por esse tipo de arte, até que gostaria saber fazer, até que tento, mas elas ficam para mim mesmo, julgo minha capacidade insuficiente.
    A literatura de cordel me encanta, ela é gerada da cultura popular igualmente ao grande artista repentista, e mais valioso que acho nesse tipo de arte, é porque quem a faz é semianalfabeto, e suas estrofes e versos saem com profundidade acadêmica.
    O que está acontecendo, é que brasileiro está se tornando um povo sem cultura, nos bancos escolares do ensino fundamental pouco está sendo explorada a literatura. O pouco que chega fazer parte no ensino fundamental é insuficiente para despertar o interesse do jovem aluno. É notório, que atualmente o ensino do idioma pátrio nas escolas é matéria de 2º plano, o resultado disso é evidente nas aberrações escritas por muita gente formada e até pós-graduada em profissões cuja essência exige uma boa grafia.
    Lembro de minha época de aluno como meus professores ensinavam com dedicação a Língua Portuguesa, e repassava com prazer em suas aulas. A literatura e a poesia eram conjugadas com a parte gramatical e isso nos despertava o interesse pela leitura e enriquecia o aprendizado da gramática. Atualmente a coisa é bem diferente, principalmente no ensino publico.
    Como falei acima, poesia exprime uma forma de amor, e quando tomei jeito de gente, aprendi que amor é uma troca de respeito, dedicação e carinho, que no meu conceito é feito com elogios e romantismo. Era por ai que a poesia através da melodia musical nos transportava para o que chamo de mais sublime o “Amor”
    Como o conceito de romantismo hoje é outro, onde a troca de amabilidade entre os jovens é serem chamado de kenga, rapariga, corno, boiola, caralho, fudeu, chupão, e etc.., as formas poéticas tomaram outro rumo e os reconhecidos são os poetas/compositores que musicam letras para serem cantadas inclusive com os gestos pertinentes.
    É essa a atual cultura brasileira incentivada pelos mais importantes meios de comunicação capitalista.

    Orlando Araujo

    ResponderExcluir