Alunos declamam meus poemas na 2ª Mostra Cultural em Itabaiana |
Sou plagiador de mim mesmo
Vocês vejam as voltas e
contravoltas de um texto na internet, esse universo maluco repleto de doidos,
uns mansos, outros violentos. No dia primeiro de julho de 2010, sem ter nada
para postar no meu blog, inventei uma história a respeito do poeta repentista
Manoel Xudu, a quem muito admiro. No texto, esse gênio da poesia popular canta
três estrofes de pretensa poesia declamada em uma noite de chuva na beira da
linha, em Itabaiana. Compus os versos, achei legalzinho e tasquei em um site
literário, logicamente assinando o trabalho. Mas entretanto todavia e contudo,
já havia sacramentado o poema como de autoria de Xudu. Os versos correram mundo
na grande rede. Eu, deitado na minha rede velha, fiquei só olhando a confusão e
declamando Xudu, esse sim, legítimo poema do cantador de São José dos Ramos:
Oh meu Deus, me arrependo do
que digo
Como um louco, hipócrita e
perdulário
Não pretendo manchar o teu
sacrário
Pois na vida e na morte estou
contigo.
(In Manoel Xudu, o imortal do repente, de Pedro Ribeiro)
Me arrependi de ter dado como
de autoria de Xudu as décimas sobre um passageiro aperreado num trem
desgovernado. Passei a ser plagiador de mim mesmo. Tentei imitar a forma
simples de Xudu dizer as coisas mais essenciais. Ainda hoje pago por esse pecado.
Dias atrás, uma equipe de estudantes da Escola João Fagundes de Oliveira me
procurou para fazer entrevista destinada a captar informações sobre minha vida
para um trabalho escolar. Um dos rapazes me perguntou na bucha: “O que o senhor
acha de alguém assinar um trabalho literário de outra pessoa como se fosse
dela?”. Na hora não atinei na razão da interrogação, depois “me toquei” e
lembrei do caso do falso trabalho de Xudu. Algum professor deve ter lido as
duas versões e mandado o menino me fazer a pergunta cavilosa.
Mesmo assim, a poesia “Trem
desgovernado” foi destaque na 2ª Mostra Cultural da 12ª Gerência Regional de
Ensino sediada em Itabaiana, evento realizado com muito sucesso no último dia
23 deste (sexta-feira). Minha amiga e grande educadora Telma Lopes informa que
a sua Escola Estadual João Fagundes de Oliveira montou uma majestosa homenagem
a este humilde escrevinhador. Os meninos vestidos com camisetas tendo a
serigrafia de minha cara, dançaram, cantaram e declamaram minhas obras. Minha comadre
Sueli Juventino criou coreografia baseada nos meus poemas. A garotada dançou
com gosto e arte, ficando em segundo lugar entre as escolas participantes, só
perdendo para a Escola Teonas da Cunha,
de Juripiranga.
Ao final, alunos declamaram
alguns poemas do velho Fábio Mozart, entre eles o “Trem”, que republico hoje em
homenagem aos jovens alunos da minha antiga escola.
MINHA VIDA É UM TREM DESGOVERNADO
Fábio Mozart
Minha vida é assim e nada muda
Nos vagões desse trem desgovernado
Onde sou carcereiro e apenado,
Guarda-freio ao léu pedindo ajuda.
Rogo a Deus lá do céu que me acuda,
No caminho de ferro dê a pista
E aponte no meio dessa lista
O astral da fortuna detalhado,
Minha vida é um trem desgovernado
Sem destino, controle ou maquinista.
Fui largado no meio do caminho,
Ambulante de mera fantasia,
Vivo assim sem registro todo dia
Enfrentando tufão, redemoinho,
Minha cama é feita de espinho,
Em vagão cruel e determinista,
Portador de bilhete fatalista
Que não leva ao destino desejado,
Minha vida é um trem desgovernado
Sem destino, controle ou maquinista.
O farol desse trem nada ilumina,
Deslizando nos trilhos da paixão,
Pára sempre na mesma estação
De lembrança cruel que alucina,
Detonando dose de adrenalina
Na cabeça do pobre repentista
Que por isso só vive pessimista,
Sem alento e desorientado,
Minha vida é um trem desgovernado
Sem destino, controle ou maquinista.
Minha vida é assim e nada muda
Nos vagões desse trem desgovernado
Onde sou carcereiro e apenado,
Guarda-freio ao léu pedindo ajuda.
Rogo a Deus lá do céu que me acuda,
No caminho de ferro dê a pista
E aponte no meio dessa lista
O astral da fortuna detalhado,
Minha vida é um trem desgovernado
Sem destino, controle ou maquinista.
Fui largado no meio do caminho,
Ambulante de mera fantasia,
Vivo assim sem registro todo dia
Enfrentando tufão, redemoinho,
Minha cama é feita de espinho,
Em vagão cruel e determinista,
Portador de bilhete fatalista
Que não leva ao destino desejado,
Minha vida é um trem desgovernado
Sem destino, controle ou maquinista.
O farol desse trem nada ilumina,
Deslizando nos trilhos da paixão,
Pára sempre na mesma estação
De lembrança cruel que alucina,
Detonando dose de adrenalina
Na cabeça do pobre repentista
Que por isso só vive pessimista,
Sem alento e desorientado,
Minha vida é um trem desgovernado
Sem destino, controle ou maquinista.
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