Luiz Antonio locomove-se com dificuldade nas calçadas de Itabaiana, tomadas por automóveis e motos |
Luiz
Antonio esteve conversando comigo ontem pelo Facebook. Ele é professor na
Escola Estadual João Fagundes de Oliveira, em Itabaiana. Pela conversa, noto
que esse rapaz se destaca do mestre comum, porque gosta do que faz e tem aquela
ânsia de produzir e espalhar conhecimento. No momento, Luis está lendo o livro "O Teatro em
Itabaiana - Da União Dramática ao GETI", do PhD Romualdo Palhano, filho adotivo de
Itabaiana, mestre que tem uma bibliografia interessante sobre a história desta
terra e que precisa ser lido pelos conterrâneos. “Estou encantando. O livro me
mostra uma cidade onde vivo há quarenta anos a qual não conhecia”, confessou
o professor Luiz.
Luiz
Antonio falou das manifestações ocorridas ontem na cidade, citou o colega Fred
Borges como um dos cidadãos que ajudaram a organizar o evento, indo
pessoalmente de escola em escola convidando os alunos para mostrar a cara e
lutar pela implantação do Instituto Federal de Tecnologia, equipamento que está
ameaçado de não sair por causa de querelas jurídicas e burocráticas.
Depois falamos sobre literatura. O professor
lamentando a ausência de iniciativas para formação de leitores nas escolas
públicas. Sem leitor, não teremos cidadãos conscientes. Sem isso, não se pode
compreender o mundo que o cerca, impedindo as mudanças. A leitura dá
discernimento, expressão que chega perto do tal “óbvio ululante” de que fala
Nelson Rodrigues. Para Luiz Antonio, os jovens não conhecem o prazer da leitura
um pouco por culpa dos próprios professores que não os incentivam. “Hoje em
dia, os resumos de obras literárias nas escolas são feitos a partir de filmes
baseados em livros dos grandes autores”, disse o professor. O aluno passa longe
dos livros. Isso é trágico.
Luiz
Antonio é um sujeito que entende o espírito da coisa. Isto é, entendeu a vida e
passou a viver conforme a música que tocasse. Paraplégico, ele aprendeu a
ultrapassar barreiras, tirar de limpo todas as deslealdades do cotidiano,
incluindo a falta de respeito para com as pessoas com necessidades especiais. É
comum o paraplégico desviar sua cadeira para a rua, porque a calçada está tomada
por automóveis.
Depois o
papo nos levou à poesia. Falou do seu aluno que tem pendores poéticos. “Um
rapaz romântico, seus poemas são inclinados ao amor”. A gente liga muito poesia com romantismo, o
sentimentalismo exacerbado. Poesia, no
entanto, fala de tudo e não fala especificamente de nada. Poesia às vezes nem
fala, deixa que o leitor fale por ela.
Enfim,
parabenizo a Escola João Fagundes de Oliveira por ter um mestre dessa
qualidade, um cara que enxerga aquilo que os outros não vêm e anda veloz pelos
caminhos da cognição. Estudei nessa escola lá nos tão longínquos anos 70, e
ainda hoje lembro das vivências e convivências com bons professores como esse
Luiz Antonio. Ainda bem que a tradição continua.
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