Minh`alma
de sonhar-te anda perdida,
Meus
olhos andam cegos de te ver!
Não
és sequer razão do meu viver,
Pois
que tu és já toda minha vida!
Hoje,
sexta-feira, era dia de tomar um porre, dançar, transar, enfim, sextar,
conforme o neologismo da moda. Era. Atualmente, o brasileiro vive o pânico
desse vírus, preso em casa, com o país sendo comandado por um lunático. “É como
uma puta vivendo sob a falsa proteção de um gigolô”, mal comparou um amigo meu.
Este poema todo mundo conhece na voz de Fagner quando o cearense trabalhava um
repertório mais rico. “Estamos em um momento tão tenso que as pessoas querem
músicas para dançar mesmo, para esquecer”, justifica Fagner.
Eu
prefiro ler a poesia de Florbela Espanca, a portuguesa autora dos versos
musicados por Fagner. Florbela nasceu na zona rural de Alentejo, autodidata,
feminista, morreu em 1930 e começou a fazer versos com oito anos. Sua poesia
mexeu com a sociedade hipócrita e convencional do seu tempo. A poeta foi tão
revolucionária que mudou o próprio nome. Nascida Flor Bela Lobo, autonomeou-se
Florbela D`Alma da Conceição Espanca.
Florbela
deixou um diário. Nele escreveu coisas assim: “Eu não sou boa nem quero sê-lo,
contentando-me em desprezar quase todos, odiar alguns, estimar raros e amar um.
Sou pagã e anarquista, como não poderia deixar de ser uma pantera que se preze”.
Casou-se três vezes. Como libertária, defendia a liberdade sexual “sem a qual o
gênero humano não se realiza”.
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente…
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
(Florbela Espanca, «Charneca em Flor», in «Poesia Completa»)
Nenhum comentário:
Postar um comentário