Na quarentena,
eu lendo Geografia dos Mitos Brasileiros, de Câmara Cascudo. Meu compadre e
poeta Bob Motta foi amigo de Luiz Cascudo no Rio Grande do Norte. Quando Bob
morreu em 2017, escrevi um folheto, “Chegada de Bob Motta no céu”, onde o poeta
dá de cara com Luiz da Câmara Cascudo no paraíso, ou foi no purgatório. A
narrativa não deixa isso claro.
Eis,
porém, mais que ligeiro,
Surge um ser que o deixa mudo
Na comitiva de frente
Vem o Câmara Cascudo
Folclorista de Natal
Que foi seu mestre em tudo.
Cascudo abraça o poeta
Na aura misteriosa
Tendo na mão um livrinho
Na outra mão uma rosa
Convidando para um chá
E dois dedinhos de prosa.
No papo, mestre Cascudo
O saúda pelo escrito
Do livro “Bob e Adele,
Causos de amor infinito.”
Seu derradeiro trabalho
Com seu tema favorito.
Surge um ser que o deixa mudo
Na comitiva de frente
Vem o Câmara Cascudo
Folclorista de Natal
Que foi seu mestre em tudo.
Cascudo abraça o poeta
Na aura misteriosa
Tendo na mão um livrinho
Na outra mão uma rosa
Convidando para um chá
E dois dedinhos de prosa.
No papo, mestre Cascudo
O saúda pelo escrito
Do livro “Bob e Adele,
Causos de amor infinito.”
Seu derradeiro trabalho
Com seu tema favorito.
Com
a paciência já moída e desfigurada pelo isolamento antissocial, o velho Mozart está
saudoso dos ventos intoxicados das avenidas e das paisagens urbanas e mau cheirosas
da capital Parahyba, levando o tempo a ler compulsivamente. Nas minhas estantes
disponho de cerca de oitocentos livros, sendo a maior parte deles para circulação
no nosso projeto “Biblioteca viva”, onde montamos estantes de livros em
determinados espaços públicos para troca livre. Precisaria de mais dez anos de
isolamento para ler a metade desses livros. Não quero que eles fiquem sozinhos
com suas riquezas. Precisam propagar-se, abrindo mentes e conduzindo os
educandos. Livro não nasceu no mundo para viver confinado em estante.
Esta
semana comecei a ler Câmara Cascudo. Em seus relatos históricos, o mestre folclorista
fala de uma epidemia “devastadora como um cataclismo” que se abateu sobre
Natal, Rio Grande do Norte, ano 1856, matando 250 pessoas em uma população de
apenas cinco mil à época. Era o terrível cólera. Depois veio a varíola, a
meningite e demais flagelos naturais que nivelam a humanidade e escancaram a
triste e frágil condição humana.
No
deusmeacuda dessa aflição epidêmica, minha mente está envolvida com o
pensamento deste historiador, antropólogo, advogado e jornalista Luiz da Câmara
Cascudo, autor de 190 livros, dos quais li apenas quatro. O “Dicionário do
Folclore Brasileiro” é referência na minha estante individual. Em 2004, o
escultor e meu amigo Mestre Zaia me brindou com um busto de Câmara Cascudo.
Zaia é autor do busto do poeta Zé da Luz, destruído recentemente em praça
pública na sua cidade, Itabaiana. Pois bem, estou aqui lendo e olhando para
Cascudo, transformado em meu santo de devoção, símbolo do conhecimento e da
cultura em um país tão medíocre e porcamente governado.
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