quarta-feira, 1 de abril de 2020

Notas da quarentena sobre a quartelada


A primeira quartelada no Brasil teve Deodoro da Fonseca como chefe. Foi o primeiro presidente militar, depois de dar um golpe na Monarquia. 


Neste 31 de março, este escrevinhador se recusa a falar sobre o golpe militar de 1964 com mal humor e de forma sombria. Com o Brasil voltando à direita, elegendo o mais incompetente e truculento presidente de sua história, os militares retornam ao poder pelas vias legais. Menos mal, eu diria.

en passant, registrar que estou lendo nesta quarentena “A regra do jogo”, de Cláudio Abramo, onde ele comenta sobre corrupção da imprensa durante a ditadura militar. Com a palavra o mestre Abramo: “Muitas formas de corrupção se deve ao regime político. Num regime democrático, o ministro dura quatro anos, se dura. O poder do presidente é limitado. A ditadura militar criou a corrupção maciça da imprensa, porque esses governos são duradouros, e o poder dos ministros é ilimitado. Não se sabe se o presidente ficará um, dois, três, dez ou quinze anos. Os ministros ficaram cada vez mais poderosos. Por isso a corrupção alcançou outro nível”.

E, para entreter meus seis leitores, sem deixar de exercitar o espírito crítico, vai essa piada de uma época que não teve graça nenhuma no Brasil. No Rio de Janeiro, edifício em Copacabana, uma velhinha, uma garota muito gostosa, um coronel do Exército e um rapaz estudante no elevador. De repente apagou a luz, o elevador ficou escuro e parou. No silêncio do elevador ouviu-se o barulho de um beijo seguido de um tapa. Quando a luz voltou, o coronel estava passando a mão no seu rosto. A velhinha pensou: “Bem feito, esse tarado quis passar a mão na bunda da mocinha e levou um tapa”. A mocinha pensou: “Esse milico deve ter tentado se aproveitar da velhinha e levou um tapa”. O coronel pensou, olhando para o rapaz: “Esse moleque passou a mão na bunda da menina e eu levei um tapa por engano”. E o rapaz pensou: “Tomara que acabe a luz novamente só para eu beijar o dorso da mão e dar outro tapa na cara desse milico ditador”.

Passados 56 anos do golpe militar, as novas gerações desconhecem ou não compreendem esse fato histórico. Um vereador de Bayeux, região metropolitana de João Pessoa, votou contra o afastamento do prefeito Berg Lima e marcou seu voto com um protesto: “Abaixo a dentadura!”. O vereador nem desconfia, mas 80% dos brasileiros têm menos de 20 dentes na boca e apelam para a velha e incômoda dentadura. Um país de banguelas mentais acaba dando poderio a criaturas como Bolsonaro, caricatura desdentada de um militarismo arcaico e desumano.



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