segunda-feira, 6 de abril de 2020

Aplausos virtuais


O enorme intelectual Walter Galvão ensina no velho jornal “A União” que o ato de aplaudir data de bem antes de Jesus. Os povos muito antigos invocavam a proteção dos seus deuses ainda mais primitivos batendo palmas, tentando espantar os demônios nas celebrações em torno da fogueira divinizada.

Nesta agonia social em que vive nosso povo, quero pedir um forte aplauso para um rapaz que prefere ficar no anonimato, revestido daquela humildade dos virtuosos. Ele sabe que estou falando de sua ação e reconhecendo seu trabalho benéfico para os que nada possuem e vivem as piores agruras na crise sanitária, econômica e social. Sem interesse nenhum, não é candidato a nada, não é cabo eleitoral de ninguém, sai de casa de manhã para recolher alimentos para pessoas em situação de rua. Arrisca sua saúde em nome da prática de uma justiça defendida por todas as religiões, que reza: dar aos que precisam o que você tem a mais porque, se Deus deu para todo mundo, você tendo a mais está havendo iníqua desigualdade. Quando você procura distribuir, está fazendo justiça.

Meu herói do dia, acho que sem nunca ter professado religião alguma, também segue o que diz a Palavra: “quando você for ajudar, faça com humildade, dê com a mão direita o que a esquerda não vê”. Conheci uma mulher admirável em Mari, dona Benedita Luiza, ela também de um altruísmo magnífico. Quando ajudava alguém não queria gratidão. “Eu que devo agradecer por você me dar a chance de fazer o que Deus mandou”, dizia ela.

Em Jerusalém, os pedintes têm uma máscara no rosto para que não se veja quem está pedindo, costume derivado desse princípio bíblico de dar com a direita sem que a esquerda tome conhecimento. Lá, os mendigos pedem com suas roupas melhores, ao contrário de nossa cultura onde o esmoleiro quer despertar sua compaixão. Meu compadre socorrista social também usa máscaras na sua ação diária de pedir para quem está com fome. Sua máscara, no entanto, é prevenção. Seu jejum tem apenas um objetivo: ficar sem comer para saber o que sentem os que nada têm para se alimentar.


Os políticos votaram uma ajuda para quem está faminto nessa pandemia. O “evangélico” regente da República não foi tocado pelo que diz sua religião e fica protelando o donativo. Se não faz, é porque é indiferente ao seu próprio Livro Sagrado. Abraçar o outro e entender as pessoas, fazer pelos outros sem esperar recompensa, tratar seus semelhantes com dignidade, ter empatia, é o eixo de toda religião. Meu aclamado de hoje é dessas pessoas que vivem para servir.

Aplausos gerais!

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