Em 1993, meu
time Associação Atlética do Canteiro foi campeão municipal em Mari. O prefeito
Manoel Monteiro nos deu este troféu que ainda hoje guardo com desvelo. Foi o
acontecimento do século para este velho amador do futebol. Minha Copa do Mundo.
Todos os troféus da seleção brasileira não troco por esta humilde taça de um clube
amador nas brenhas da Paraíba.
Olhe, meu povo,
eu não sou adepto da teoria da competição como motor do mundo. Cooperação no
lugar do antagonismo, realçando os valores sociais e humanos. Nisso que eu
acredito, batendo de frente com os ideólogos neoliberais, partidários do
sistema capitalista competitivo. Trata-se de vencer uma competição consigo
mesmo. Quando eu fundei um clube de futebol para animar uma rapaziada pobre da
periferia de uma cidadezinha paupérrima, o objetivo não era ganhar partidas ou torneios,
mas vencer o preconceito, a desigualdade e a baixa autoestima. Igualmente,
quando constituímos uma associação para montar a rádio comunitária da cidade, a
meta sempre foi dar voz aos elementos periféricos e não liderar a audiência. Integridade
e interação, esse é o nome do jogo. Os grupos sociais como o Movimento dos
Trabalhadores Rurais sem Terra jamais são convidados a participar e cooperar
com a comunidade e são apresentados como baderneiros. Nossa rádio e nosso time
acomodavam os “sem terra”. No meu livro “Democracia no ar”, sobre a trajetória
da rádio Araçá de Mari, destaco essa participação do MST. Na capa, a foto dos
militantes e suas foices guarnecendo o estúdio da rádio popular.
Vitória é consequência
e acabamos ganhando o campeonato. Ganhamos respeito e valorização. Não foi uma
taça pra esfregar na cara do rival. Gritar “é campeão” e escorrer a lágrima da
superação social na taça, é perceber que pode evoluir como cidadão. Foi uma
grande conquista para aquele grupo de rapazes. Severino, Bola Cheia, Formiga,
Josa, Heleno, Alexandre, Nado Mago, assessor técnico, Jason, técnico e
tesoureiro, Cabecinha goleador, Nilcélio e outros futebolistas comunitários em
um time diferenciado. Éramos a única associação esportiva da cidade com
registro em cartório.
Fiquei com a
taça e as camisas do time. Há mais de vinte anos não convivo com essas
personagens marienses. Lembrei da taça ao ler notícia de que o boxeador Popó
arrecadou 90 mil reais leiloando seu cinturão de campeão mundial para ajudar as
vítimas do coronavírus em sua comunidade. Conseguiu ajudar 300 famílias em
Salvador. Na luta para ser campeão, Popó acabou levando 38 pontos na cara. Ganhou
500 mil dólares pela conquista do cinturão. “Isso não importa, o que vale é que
estou ajudando a matar a fome de muita gente, esse é o valor real”, disse Popó.
A taça de campeão do Canteiro está à disposição para quem quiser dar lances. Não
vale muita coisa aparentemente. Noi entanto, é referência de respeito,
igualdade, solidariedade e batalha por um mundo melhor.
Aproveito que
estou jogando hoje no ataque, lembrar que ontem, 16 de abril, a
Federação Pernambucana de Futebol declarou o Clube Náutico Capibaribe campeão
pernambucano de 2020.
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