Hospital São Vicente de Paulo. Foto do término da
restauração, em junho/1983, pela Prefeitura Municipal de Itabaiana,
gestão do prefeito, meu compadre Edilson Andrade - (Foto: Memória Viva)
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Amigo velho de Itabaiana
pede para que eu rascunhe umas palavrinhas a respeito do Hospital e Maternidade
São Vicente de Paulo, que está para fechar suas portas por falta de recursos.
Esse drama, aliás, vem se arrastando há bastante tempo, misturando politicagem,
má gestão, indiferença da comunidade e pura e simplesmente retrato da falência
do nosso sistema público de saúde.
Na cidade de Mari,
fecharam o Hospital Santa Cecília, também filantrópico. Esse hospital sangrou
durante muitos anos, até morrer. Em 1989, meu filho mais novo teve que nascer
em Sapé, cidade próxima, porque o Santa Cecília já não atendia parturientes.
Desde então, nenhum mariense nasceu em sua terra.
Se você quer boa
colheita, seja bom plantador. Há algo acontecendo com esses hospitais ditos
filantrópicos, que vai além da crônica falta de recursos, da ineficiência dos
poderes públicos para atender à população, da falta de leitos e da carência de
profissionais da área. Arquidy Picado Filho garante que o Brasil não é um país
sério, por isso tem se transformado num caso sério. Em Itabaiana, a população
vê com descrença o quadro do São Vicente de Paulo, gerido por um mesmo grupo há
muitos anos. Desconfiam que o ponto X do problema é a falta de renovação do
quadro administrativo. Pode até ser, mas o que pega mesmo é a questão
financeira, porque não tem gestor nenhum no mundo que seja capaz de equilibrar
finanças sofrendo déficit anual constante, principalmente na relação contratual
estabelecida com o SUS. Defasagem na tabela dos preços supera, em muitos casos,
os 100%. A diferença entre o custo e a receita tem sido absorvida pelos
hospitais. Alguns recorrem a empréstimos bancários e caem mortos pelos juros
piratas. Grande parte desses hospitais não conseguem pagar os encargos sociais
dos seus empregados, acumulam dívidas e acabam por falir. Sem bons salários, a
classe médica também fica desestimulada e não aceita trabalhar nesses
hospitais. Só permanecem aqueles que trabalham por amor mesmo, como meu
compadre Dr. Dedé Lucena que aprendeu o ofício de salvar vidas nesse Hospital
São Vicente de Paula e nele permanece, mesmo sem compensação financeira.
A verdade é que pelo
menos 83% dos 2.100 hospitais filantrópicos brasileiros operam no vermelho,
segundo estimativas da CMB (Confederação das Santas Casas de Misericórdia,
Hospitais e Entidades Filantrópicas). E a conta é simples: cada hospital desses
ganha por produção, mas têm um número limite de procedimentos pelos quais são
remunerados. Se realizam mais procedimentos do que o previsto, podem ficar sem
pagamento porque os valores ultrapassam o teto de verbas do gestor público. E
então, um Hospital pode deixar de atender ao paciente porque passou do limite
de pagamento do SUS? Esse é o grande drama dos hospitais filantrópicos.
Para escapar, o Hospital
São Vicente de Paulo teria que se reinventar. Esse redesenho teria que ter a
participação efetiva da comunidade, como foi na sua fundação, quando cada
morador levava seu tijolinho para construir o prédio, do mais abastado ao mais
humilde itabaianense. Infelizmente, esmaecem nossos sentimentos comunitários.
Cada um só pensa em si e em criticar as ações alheias. Nesse cenário, acho que
só resta aos historiadores juntar os documentos, utensílios e demais
patrimônios materiais e imateriais do velho São Vicente e providenciar seu
sepultamento. Causa mortis: subfinanciamento e indiferença.
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