Itabaiana do Norte. No bairro pobre
da Suburbana fica a Rua Joana Cândida da Costa, minha avó paterna. Por que uma
mulher simples do povo acabou dando nome de rua em Itabaiana? Para tudo nessa
vida há uma explicação. Deu-se que meu pai era secretário geral da prefeitura e
quis homenagear sua mãe. Aproveitou o prestígio do prefeito com os vereadores e
pronto!
Alertando aos moradores da velha
Itabaiana, que amanhã faz 124 anos de emancipação política: minha avó Joaninha
da Pólvora não era uma qualquer. Trata-se da mulher do seu Benedito
ferroviário, mãe do jornalista Arnaud Costa e avó do velho Leão, um sessentão
que não tem nenhum compromisso com a isenção nem a modéstia. Dito isto, explico
porque minha avó Joaninha adquiriu o direito de dar nome a uma rua, mesmo que
seja uma dessas passagens tipo arraia-miúda, um quase bequinho, um atalho de
pobre.
Dona Joaninha, além dos predicados
de ótima cozinheira e excelente mãe, avó boníssima e vizinha legal, conhecida
em toda ribeira na rua das Flores e adjacências por gato e cachorro, era uma mulher
corajosa e destemida. Na época em que a linha do trem estava se estabelecendo
na região, a Great West dinamitava os cortes de serra para nivelar a via
permanente por onde passariam os trens. Como empregado da empresa, seu Benedito
guardava os explosivos em casa. Dona Joaninha, sua esposa, passava o dia
fumando seu cachimbinho e tomando conta do arsenal. Tudo por amor ao progresso.
Por sua conta, sem temer o perigo, abrigava toneladas de dinamite que mudariam
profundamente a face daquela terrinha, através da ferrovia. Ficou conhecida
como dona Joaninha da Pólvora até morrer, ironicamente vítima de um incêndio em
sua casinha. Mas não foi o explosivo ferroviário. O cachimbinho caiu na rede e
provocou a queimação. Já não existiam serrotes para serem dinamitados pelos petardos
ingleses.
Na verdade, minha terra precisa
restabelecer as pontes com sua memória. Ontem, foi lançada a 3ª edição do
livro “Itabaiana, Sua História – Suas Memórias, 1500 – 1976” do escritor
Sabiniano Maia. É um bom indício. Precisamos ocupar os espaços vazios em favor
da exaltação dos bons exemplos do passado, para fazer o contraponto com as
mediocridades do presente e superar o momento/acidente vivido agora. A boa
notícia é que um grupo de jovens professores está tentando fazer levantamento
técnico dos prédios históricos da cidade para fins de tombamento. Sabem que é
difícil, mas percebem que todo esforço deve ser feito para que mais e mais
itabaianenses venham a reconhecer o valor da preservação de nossa memória e se
disponham a colaborar.
Eu
arrisco confessar para vocês uma ideia que tive agora: fazer um estudo sobre
todas as ruas da cidade, começando com a rua de minha avó Joaninha da Pólvora,
claro! Uma luta a mais para a gente atravessar as pontes dinamitadas pelos
carreiristas, ambiciosos e corruptos que transformam nossa cidade num simples
roçado ou fazenda de boi mineiro, para apenas usufruir de nossas forças e
riqueza.
Em
tempo: na minha imodéstia opinião, já deveriam tratar de dar meu nome para uma
rua qualquer. Cidadão honorário já sou, com justo orgulho.
Eu sou seu fã,Mozart,por isso li sua repostagem.Achei-a interessante.
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