quarta-feira, 27 de maio de 2015

Essa febre que não passa

Ensaio da peça “Essa febre que não passa”, baseado no livro de Luce Pereira
Título do livro de contos da jornalista pernambucana Luce Pereira que achei no lixo. Li o primeiro conto, sobre um casal de lésbicas que adota um gato para salvar a relação. Achei filé. Guardei o resto para saborear em outro instante, na rede velha, no meu recolhimento natural para degustar esses manjares literários.
Na net onde tudo se sabe, fico sabendo que “Essa febre que não passa” virou peça teatral, com o grupo pernambucano Coletivo Angu de Teatro. “É um mergulho na alma feminina, um rico universo a ser explorado”, diz a sinopse do espetáculo patrocinado pela Chesf.
Eu disse que encontrei o livro no lixo, mas deixa explicar melhor: sempre que vou ao Espaço Cultural em João Pessoa, levo livros para trocar na estante do projeto de escambo de livros, uma estantezinha onde a pessoa deixa um livro e leva outro, sem nenhum controle, nem registro ou qualquer tipo de moderação. Dá-se que a maioria das pessoas deixa lixo na banquinha. Catálogos velhos, almanaques de dez anos atrás, revistas da Avon, livros técnicos sobre como imprimir em mimeógrafos a óleo, coleções didáticas ultrapassadas e outros resíduos impressos. Tanto que, invariavelmente, só deixo meus livros lá. Não tem o que pegar de volta. Até que, finalmente, um leitor sensato e honesto deixou o livro de Luce Pereira. “Pelas tortas travessias do mundo”, tomo conhecimento da obra dessa boa escritora.
Dei-me a tarefa de ler o livro até o dia 2 de junho, data em que o projeto “Livro na feira” vai iniciar na cidade Itabaiana do Norte. Armaremos nossa barraquinha de troca de livros em frente à Câmara de Vereadores, com o mesmo espírito de estimular o gosto pela leitura e dar opções, de graça, para quem gosta de ler. “Essa febre que não passa” vai ser o primeiro livro do expositor. Espero que seja trocado por alguma obra decente e que seu futuro leitor se farte com a arte de Luce e sua “garra impressionante nos contos densos, vigorosos e fortes” desse livro.
O projeto leva muito daquele sentimento que temos de gostar de dividir as coisas boas que experimentamos, as emoções de um bom livro. É uma alegria sem preço ver que alguém encontrou um bom livro e, talvez, lerá essa obra e, quiçá mais ainda, a partir dessa descoberta se contamine com essa droga alucinógena das mais indicadas, acabando cada vez mais dependente dela.


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