Cuspe de Satã
Meus
olhos estão cansados.
Recebi o
cuspe de Satã no olho esquerdo,
gosma de
cobra peçonhenta que,
sem dó
nem ré ou mi,
fatalmente
fechará o véu
para
tornar poesia
o que um
dia foi retina e rotina.
A cara
cortada de picadas de corvos imaginários,
vendo por
um olho só
os tarôs
e venenos, suspiros e degredos,
signos e
medos.
Pressão intraocular batendo
Pressão intraocular batendo
em horas
desencontradas,
alfinetes
nas encruzilhadas
dos meus
devaneios,
alicate
da neuropatia óptica
provocando
lesões de ninfas e dragões.
A retina queima e se mostra faminta
A retina queima e se mostra faminta
como as
últimas moscas do verão.
O
vermelho dos meus olhos
não cabe
nas faces de Marte
ou nos
espelhos do sol..
Quando enfim, fechar os olhos,
Quando enfim, fechar os olhos,
devo
lembrar de cenas amontoadas,
misturadas,
sem sequência,
com as
chuchadas da pressão ocular
a me
lembrar que ali restam cinzas
de
antigos sonhos de visão e agora,
nervos
óticos mortos como lápides
a
lamentar o que não foi possível ver e rever.
Não deu
tempo, e nem poderei chorar,
que os
cegos não choram,
apenas
tentam expulsar o que sobrou
de
antigas imagens na sua cabeça
de cego
que quis ser vidente um dia.
F. Mozart
F. Mozart
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