Seu Ciço é o candidato de todas as tribos |
Seu Ciço é meu candidato a deputado estadual.
É um Dom Quixote, armado com seu fuzil de vento contra os tumores putrefatos do
sistema eleitoral. Ciço é um rapaz bastante expressivo, com suas barbas longas,
seu perfil de maluco sonhador, adulterador das manhas e malevolências do seu
espaço e do seu tempo. Vive como pensa, seja como ambientalista, seja como
cidadão. Não usa automóvel, não consome carnes, veste-se de estopas ou algodão
bruto do seu sertão, usa um chapéu de couro e um aparelho de som, tocando forró
“pé de serra” por onde anda.
Seu Ciço mandou essa narração do seu diário
de campanha, mostrando que o tumor maligno da corrupção eleitoral atinge a
juventude com sua metástase infame:
“Alguns dias atrás, recebi e aceitei com prazer
um pedido de amizade no facebook. Um novo amigo virtual, jovem com 17 anos, do
alto sertão. Agradeceu por adicioná-lo, compartilhou minhas postagens da
campanha, e ainda disse: "Seu Ciço o senhor é 10, meu voto é seu e o boi num
lambe". Cá comigo pensei, que amigão! Vai ser uma força
nas redes sociais.
No dia seguinte, recebi uma mensagem privada do
meu mais novo amigo, dizendo assim: 'Seu Ciço, meu deputado quente, o senhor pode "mim" ajudar?' O
sexto sentido cochichou-me: 'Te liga caba véi, essa é a senha para a facada
virtual'. Um tanto bandeiroso, tasquei-lhe o clichê: 'Depende, se estiver ao meu
alcance, pode contar comigo até para apagar fogo no pingo do meio dia no
sertão'. 'Não. Seu Ciço, né nada de pedido de dinheiro não, é que eu vou a um
piquenique e queria que o senhor "mim" ajudasse com "quatro
fardos" de refrigerante, aí a turma toda vota no senhor'. Ah, bom, não sabia
que existia refrigerante em fardos. No meu tempo, fardos eram de algodão ou
carne de charque. Mas, me diga uma coisa, aí onde o amigo mora se adquire
fardos de refrigerante com algo diferente de dinheiro? Sacando o estilo Seu
Lunga em minha pergunta, o esperto jovem aprendiz de eleitor inocentemente
desonesto de primeiro voto, saiu-se com essa pérola, que também não ouvira
antes: 'Quer dizer que não pode dar 100 reais na eleição pra ajudar numa
festinha, mais pode roubar quando chegar na Assembleia né? Sabe de uma coisa
Seu Ciço? O senhor é Zero'.
Pra encurtar a conversa, disse-lhe que nas duas
situações se estaria cometendo crimes. Disse-lhe ainda que em outro momento eu
até poderia ajudá-lo, naturalmente sem esse escambo escroto de coca-cola por
voto que certamente ele conseguirá na grande feira livre da corrupção eleitoral
que é a eleição em nosso Estado. Perdi um amigo e em minha solidão concluo, resignado, que eleitores desonestos querem políticos honestos. Fui dormir
sonhando com uma nova geração de eleitores mais éticos.”
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