sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Sobre damas e cavalheiros


Primeira Dama da Bahia dando dedo para quem votou no marido dela


No caso da primeira dama, quem é a segunda? Por que as mulheres têm orgulho de ser primeira dama, mas ninguém quer ser mulher dama? E as damas de companhia, por que não fazem companhia às primeiras damas? 

Faço-me essas perguntas depois de ler uma notícia comum de uma primeira dama fazendo uma tarefa qualquer, dessas próprias de primeiras damas. Assaltado por essas dúvidas, fico sabendo: pesquisas indicam que todas as primeiras damas são boazinhas, quietinhas, bonitinhas, bem comportadas, prendadas assistentes sociais, subservientes aos maridos. Odeiam músicas radicais e poesia concreta. Fogem dos radicais livres e se vestem de mamães Noel para adoçar a boca da criança suja e triste dos subúrbios. 

Primeira dama, algo assim como uma Rainha da Inglaterra, com todo o glamour e as despesas da Corte pagas pelos vassalos. Só que mais burra. Damas de primeira, essas são também charmosas, mas ousadas e não aceitam o papel de coadjuvante.
A esposa do vice é a segunda dama, descobri agora. E quem sucede essa virtuosa senhora? Quem atende pelo título de Terceira Dama? Vou consultar o novo pai dos burros que atende pelo nome de Google. Lá fico ligado: tem até um cara que escreveu monografia sobre essas damas. A expressão foi criada em 1849 por um presidente dos Estados Unidos. Só podia ter nascido lá, na terra da boçalidade e vulgaridade. Há uma pompa algo pretensiosa nessa que lembra título nobiliárquico (olha aí a relação com a coroa, aliás, as duas coroas inglesas!). Jackeline Kennedy odiava ser chamada de primeira dama, mas Jack era Jack. Ela não assentava nessa espécie de equivalente republicano de rainha. 

A política sempre foi espetáculo, vulgar às vezes, carnavalesco, show medíocre para uma audiência de esmolambados sem cultura e sem amor próprio. A baixa estima dos súditos dos mandatários leva a que esses pobres vassalos adorem sua “rainha” e a papariquem. 

MC Vertinho, grande artista do funk de cuja brilhante existência fico sabendo agora, manda os manos ficarem ligados na primeira dama do chefe. Aliás, recomenda que a negrada fique longe dela que “só gosta de quem tem, só quer tudo do bom, tem coleção de melissa, só chupa da kibom, novinha sedutora, ela chega roubando a cena, quando chega lá no brega é causadora de problema, mas o mano já ta ligado, não olha, não mete, essa franguinha tem dono, é a primeira dama, é a mulher do chefe.”

Primeira dama é aquela que não precisa marcar hora na manicure nem fazer as continhas de fim de mês, que é tudo pago pelo pé rapado da periferia.  O Primeiro-Cavalheiro, masculino da primeira dama, geralmente leva fama de ser dominado pela chefa. É o marido da mulher que foi eleita para prefeita, governadora ou presidente. Fiquei sabendo que no Rio Grande do Sul tem até gabinete para Primeira Dama. Esses felas da gaita ainda falam de nós, nordestinos, que somos uns bocós! E por falar nisso, Paraíba tem a primeira dama mais polêmica do Brasil. Jovem, bonita e sem papas na língua, Pâmela Bório – mulher do governador da Paraíba, Ricardo Coutinho – fala o que pensa, coleciona admiradores e críticos e não foge de uma boa briga. É a nossa Jackeline.

Ainda bem que o Brasil não tem Primeiro-Cavalheiro nem Primeira Dama. E vai continuar assim, pelo visto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário