Ontem foi dia de passar o
domingo com meus pais em Sapé, almoçar a fava verde e levar um lero com o
patriarca e a matriarca. A programação é simples: leio o jornal para seu Arnaud
Costa, boto na vitrola uns discos de seresta, depois escuto as velhas histórias
de quando era animador cultural e social na sua Itabaiana do Norte. Durante a
sesta, acabei de ler o “Arqueologia”, poemas de Marcus Alves, e “Dois amigos e
um chato”, do sempre prazeroso cronista Stanislaw Ponte Preta, “o melhor dos
humoristas brasileiros de todos os tempos”.
Antes de entrar no mundo de
Ponte Preta, ouvi do meu pai Arnaud a versão da origem do nome “Nó cego” com
que batizaram o mais famoso bloco de carnaval de Itabaiana. Foi porque o
acadêmico de medicina e aprendiz de cirurgião Dedé Paú ajudava Dr. Aglair no
Hospital São Vicente de Paulo. Na ausência deste, chegou uma senhora precisando
fazer uma operação urgente. Dedé fez o serviço direitinho, só se atrapalhou no
final da cirurgia, porque não sabia dar o tal do nó cirúrgico. Na dúvida, deu
um nó cego. Depois, ao contar o episódio para a turma, resolveram botar o nome
de “Nó cego” no famoso bloco de arrasto fundado pelo próprio Dedé e outros
foliões.
O livro de Marcus Alves tem 60
páginas, cada uma com poemas de três ou quatro estrofes. Coisa para ser lida na
fila do banco ou durante o engarrafamento das tardes de sexta-feira na saída de
João Pessoa para Campina Grande. Biscoito fino esse livrinho do doutor Marcus.
Stanislaw Ponte Preta escreveu
muitos livros de crônicas saborosas, carregadas de humor crítico e demolidor.
Ao morrer, em 1968, aos 45 anos de idade, deixou nove livros, dos quais já li
sete. No “Dois amigos e um chato”, reuniram as melhores crônicas de Stanislaw,
cujo verdadeiro nome era Sérgio Marcus Rangel Porto.
As pérolas de Stanislaw vou
revelando aqui em pequenas doses, em homenagem aos meus leitores inteligentes
que me honram com sua preferência. Começa com a história do homem que vendia
flores. Era um rapaz sensível: doava flores às mulheres bonitas nos bares e
deitava buquês ao lado de cadáveres estirados no chão, nos subúrbios cariocas.
O conto é um dos trabalhos líricos mais qualificados do escritor.
Segue com o problema do homem
que compra uma caixinha de música para dar de presente à filha e fica com
vergonha quando a caixinha começa a tocar no ônibus, no elevador e outros
locais insólitos, revelando ao mundo seu espírito lírico. “O diabo é que todo mundo pensa que sou um cínico; ninguém acredita que
sou um sentimentalão que não aguenta uma gata pelo rabo”, escreveu ele.
O conto que dá nome ao livro
fala de um sujeito que carrega o estranho nome de Flaudemíglio. Esse enredo não
vou contar, para ter o gostinho de ver você comprar o livro no Sebo Cultural de
Heriberto e rir sozinho na sua rede velha ou deitado na cama.
“A vontade do falecido” é um
conto mais conhecido do que a vinheta do Jornal Nacional. Trata-se do caso do
homem que morreu e mandou botar toda sua riqueza em notas de cruzeiros no
caixão. O sobrinho esperto troca a bolada por um cheque ao portador.
Vou parar aqui, com a narração
do cara que foi arrolado como testemunha ocular de uma briga de casal. Levados
para a delegacia, o casal se reconcilia e a testemunha quase acaba presa por
atrapalhar a vida íntima dos dois pombinhos. Fico devendo o restante do livro.
É só você se ligar na Toca que todo dia eu conto um pouquinho desses contos e
crônicas do cara que criou moda e ainda hoje é imitado.
Boa semana para os compadres
e comadres.
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