A turma na barraca de Ponei, tomando água que passarinho não bebe nem recomenda |
UM POETA MENOR
Disseram
que eu sou poeta,
Amante
da poesia,
Um
rimador e esteta
Perfeito
nessa porfia.
Porém,
ao ler esses versos
Do
grande Fábio Mozart
De
ritmados processos
E
de rima singular,
Pensei:
sou meio poeta
Das
liras de Itabaiana,
Ou,
na verdade, um pateta
Que
com versalhada engana.
Mas,
seja lá como for,
Na
limitação da lida,
Eu
canto com muito amor
Itabaiana
querida.
Eliel
José Francisco
Esse
poema de Eliel José Francisco está numa velha pasta com mais de 200
poesias do meu compadre itabaianense, que atualmente mora em Paulista,
Pernambuco. Eliel escreve sobre sua terra natal todos os dias, em papel almaço,
com lápis tinta. Não sabe datilografar nem digitar no computador. É mestre em inglês,
idioma que aprendeu quando menino em Itabaiana. Filho de família pobre,
apaixonou-se- pela língua do Tio San, passou a vida ensinando. Hoje,
aposentado, leva o tempo a lembrar seus tempos de rapaz, quando tomava banho no
rio Paraíba cheio, descendo na correnteza.
Nunca
mais Eliel mandou seus poemas pelo correio. Faz tempo que não vejo meu amigo, o
garoto prodígio que quando estava no formato espermatozoide, na hora de ganhar
a corrida para o útero de sua mãe, gritou:
---
Quem vier atrás que feche a porteira, que eu vou cair na bagaceira!
Isso ele berrou em língua de gringo. Já naqueles
prematuros momentos, o cabra soletrava um inglês de dar inveja a William Shakespeare.
Eliel
gosta de tomar cachaça com tripa assada na barraca de Ponei. Sem o cabaré, a
cana e o rio, o poeta não existiria. Outro dia, já neurótico por conta de meia
garrafa de Matuta, Eliel aliviou suas perturbações mentais escrevendo esse
singelo poema sobre uma cachaça mal tomada:
Chegando
em Itabaiana,
Numa
festa de São João,
Enchi
a cara de cana
E
fiquei meio doidão.
E
pra agravar a desgraça
Eu
corri pra Gruta Azul
Beber
mais uma cachaça
Ai,
eu tomei no quengo...
Porque,
desorientado,
Fui
parar no cabaré.
Peguei
ali um veado
Pensando
que era mulher.
Eu
o chamei de princesa.
De
rainha e coisa e tal,
Mas
peguei num pé de mesa
Que
era um tremendo pau.
De
medo fiquei inchado
Igualmente
um cururu
Pensando
que o veado
Ia
botar pra valer...
Então
para me livrar
De
uma baita lambedeira,
Eu
saí feito um preá
Desgraçado
na carreira.
E
desse dia pra cá
Posso
estar cheio de mé
Mas
nunca mais vou passar
Na
porta de um cabaré.
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