Agenor ao lado do prefeito, que declama seus versos |
O poeta Agenor Otávio
vem insistindo em mostrar-se de tal maneira operário do caráter subjetivo da
arte que chega ser comovente. Um poeta que mantém em justa tensão aquele
sentimento de êxtase até nos mais pobres espíritos. Se o trabalho dele tem
qualidade literária, pouco importa, que já ganhou dimensão maior. É um escritor
popular que compõe poesia acima de qualquer pretensão sobre o uso estético da
linguagem. Ele é a própria poesia andando pelas ruas, colocando cartazes nas
praças, anunciando seu trabalho baseado na irrealidade das coisas puras.
Conta-nos sua sobrinha,
a jornalista Socorro Medeiros, que Agenor saiu em meio aos túmulos do cemitério
de Itabaiana, nesse dia dos finados, abordando cada defunto amigo e deixando em
sua tumba um versinho saudoso. Acabou humanizando o ambiente cheio de energias
negativas da falsidade e dissimulação, próprias desses eventos hipócritas onde
muitos se juntam para fofocar e acender velas de piedade aparente. O poeta
procura obsessivamente o tempo perdido daquela Itabaiana lírica, de cidadãos
probos e inteligentes, poetas e cronistas, líderes de ética socialmente aceita,
homens e mulheres que hoje dormem em seus túmulos, finalmente desligados de
suas angústias e alegrias. Esses extintos seres em seus encantados recantos
abriram um sorriso comovido no dia de finados para ler a composição de Agenor
Otávio, um poeta que tem verdadeiro carinho e compreensão pela essência de sua
Itabaiana de tempos que não voltam mais.
Depois, o poeta foi para
a festa das crianças que o prefeito Toinho Meu Querido mandou fazer, mesmo fora
do prazo. Feito menino inocente e cândido, Agenor desfilou sua vistosa postura
de mensageiro da poesia naquele redemoinho de palhaços, crianças, políticos e
bajuladores de todos os níveis. Marcado por um profundo sentimento de ânsia
pela simpatia popular, o prefeito Toinho abraça todo mundo, beija a garotada e
acaba por declamar um poema de Agenor. O narcisismo do poeta, por sinal
inerente a todos os artistas, chegou ao seu mais alto nível, querendo afirmar
sua inspiração lúdica e finalmente ser reconhecido.
Poesia é assim: faz
efeito tanto na casa dos mortos como nas festas dos muito vivos.
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