domingo, 17 de novembro de 2013

POEMA DO DOMINGO




Atesto e dou fé: O senador Idalmo da Silva é um sujeito poético, lírico, holístico, policrômico, cândido, límpido e homem de boa cepa, sem ser um serafim, nem anjo nem cordeiro, mas é um poeta em tempo integral. Esse paraibano incomum vive como pensa, faz de sua filosofia uma prática cotidiana. Esse humanista estava certo dia, faz muito tempo, comendo um bife em um bar pé-sujo no Ponto de Cem Réis quando repentinamente lembrou que, naquele momento, muitas crianças estavam com fome, sem ter nada para enganar o estômago. Desistiu de comer o bife em solidariedade aos famintos do mundo.

Idalmo da  Silva vive num mundo à parte: não tem nenhuma vaidade, não usa sapatos, relógio nem celular, anda a pé, em casa só tem um rádio velho cujo ponteiro de frequência quebrou e só sintoniza na rádio Jovem Pan AM. Paga o preço por trair a sociedade de consumo, mas é um preço barato: os conhecidos o chamam de maluco. Aposentado, curte a vida com seus oitocentos reais de salário de professor. Advogado formado, mestre em História, mais de 35 anos de sala de aula, ganha um pouco mais do que o salário mínimo. Mas, para Idalmo da Silva isso é suficiente, porque ele não tem filhos, separou-se da mulher e vive sozinho num quarto na casa de um parente, com seus livros de filosofia e seu universo holístico. Lutou bravamente contra todos os moinhos de vento e hoje não tem ilusões sobre os partidos políticos e as ideologias. Deixou de ser um militante. Abandonou o marxismo leninismo pela poesia de Augusto dos Anjos para avançar pelos caminhos da iluminação através  da arte.

De si mesmo, Idalmo diz que é um ator, tem talento para representar. Na verdade, ele representa ele mesmo, uma personagem dentro de um enredo absolutamente fora dos padrões. Um homem que encontrou na filosofia o gosto pela liberdade. Podem trancafiar esse cidadão magro em uma cela de máxima segurança que ele continuará livre.

Enquanto ouvia Idalmo falando sobre suas teorias filosóficas, rabisquei o poema:

Ao mestre

Do meu mestre incorporo
a angústia
apreensão
fraquezas e
luminosidades.

De mim produzo
a consciência dolorosa do povo
o sangue e a poética
de um marginal
reivindicando liberdade total
para ver o mistério do “eu”
e o outro lado.

Nas trocas de ondas afetivas
eu mato e morro
farejando a vida
invertendo realidades
lambendo as feridas
como um cachorro.

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