Atesto e dou fé: O senador Idalmo
da Silva é um sujeito poético, lírico, holístico, policrômico, cândido, límpido
e homem de boa cepa, sem ser um serafim, nem anjo nem cordeiro, mas é um poeta
em tempo integral. Esse paraibano incomum vive como pensa, faz de sua filosofia
uma prática cotidiana. Esse humanista estava certo dia, faz muito tempo,
comendo um bife em um bar pé-sujo no Ponto de Cem Réis quando repentinamente
lembrou que, naquele momento, muitas crianças estavam com fome, sem ter nada
para enganar o estômago. Desistiu de comer o bife em solidariedade aos famintos
do mundo.
Idalmo da Silva vive num
mundo à parte: não tem nenhuma vaidade, não usa sapatos, relógio nem celular, anda
a pé, em casa só tem um rádio velho cujo ponteiro de frequência quebrou e só
sintoniza na rádio Jovem Pan AM. Paga o preço por trair a sociedade de consumo,
mas é um preço barato: os conhecidos o chamam de maluco. Aposentado, curte a
vida com seus oitocentos reais de salário de professor. Advogado formado,
mestre em História, mais de 35 anos de sala de aula, ganha um pouco mais do que
o salário mínimo. Mas, para Idalmo da Silva isso é suficiente, porque ele não
tem filhos, separou-se da mulher e vive sozinho num quarto na casa de um
parente, com seus livros de filosofia e seu universo holístico. Lutou
bravamente contra todos os moinhos de vento e hoje não tem ilusões sobre os
partidos políticos e as ideologias. Deixou de ser um militante. Abandonou o marxismo
leninismo pela poesia de Augusto dos Anjos para avançar pelos caminhos da
iluminação através da arte.
De si mesmo, Idalmo diz que é um
ator, tem talento para representar. Na verdade, ele representa ele mesmo, uma
personagem dentro de um enredo absolutamente fora dos padrões. Um homem que
encontrou na filosofia o gosto pela liberdade. Podem trancafiar esse cidadão
magro em uma cela de máxima segurança que ele continuará livre.
Enquanto
ouvia Idalmo falando sobre suas teorias filosóficas, rabisquei o poema:
Ao mestre
Do meu
mestre incorporo
a angústia
apreensão
fraquezas
e
luminosidades.
De mim
produzo
a consciência
dolorosa do povo
o sangue
e a poética
de um
marginal
reivindicando
liberdade total
para ver
o mistério do “eu”
e o
outro lado.
Nas
trocas de ondas afetivas
eu mato
e morro
farejando
a vida
invertendo
realidades
lambendo
as feridas
como um
cachorro.
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