A foto é de Luiz Saia, fotógrafo oficial da Expedição de Mário de Andrade para registro das manifestações folclóricas do Nordeste em 1938. Mostra um grupo de caboclinhos dançando no carnaval de Itabaiana, em tempos
muito recuados. Os “cabocolinhos” fazem
suas evoluções na Praça Epitácio Pessoa. Achei massa o figurino da tribo:
meiões, cocares de penas de peru, perucas brancas, sapatos brancos, saias de
penas, calções e camisas de mangas compridas, certamente de cores fortes e de
lamê. A orquestra composta de caixa, maracá e flauta, os caboclinhos marcando o ritmo com suas flexas
percussivas.
As tribos indígenas tiveram forte presença
nos carnavais de Itabaiana. Os de minha geração lembram dos morubixabas João
Guarda, Mocó, Zé Leiteiro, Josa dos Assombrados da Floresta e o grande
Agostinho, um pretinho de metro e meio de altura que se agigantava com sua
tribo, fazendo ricas evoluções, encenando combates com seu porta-estandarte, os
pêros (crianças), os caboclos-de-baque entrosados na forte coreografia ao som
da inúbia, que era um pequeno flautim de taquara, instrumento do qual Risadinha
foi mestre absoluto. Mestre Agostinho parecia ter molas nas pernas, tal a
agilidade na dança dos caboclinhos.
Um dos mestres de caboclinhos mais originais
que tive a oportunidade de ver foi Josa dos Assombrados da Floresta. Queria botar Mestre Josa no meu livro
“Artistas de Itabaiana”, mas não consegui o apoio de sua família. Josa não
morreu, no entanto não brinca mais carnaval, afastou-se do mundo, isolado na
sua barraca na beira da linha. Eu cito o cacique dos “Assombrados” no meu livro
“A Voz de Itabaiana e outras vozes”. Ele era um mestre seguidor da Pajelança,
culto indígena da linha do Catimbó. Sua inspiração mística dava um toque
especial ao desfile da tribo. Nessa
linha, os caciques desfilavam incorporados por espíritos de caboclos. Era bonito
ver o cacique Josa sendo “cavalo” do caboclo Pena Branca, fazendo teatro nas
ruas com seus caboclinhos imortais.
Viva os caboclinhos, e viva a cultura popular
do Nordeste!
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