Eu com Valmir e Andrade, amigos de Itabaiana |
Hoje é dia da amizade e eu
não sofro de mania de perseguição, mas desconfio de que tem um plano sinistro
rolando por aí nas altas esferas pra ir me deixando só à medida em que me
encaminho pro andar de cima. Meus amigos estão morrendo e eu conto nos dedos os
novos que arrumei nesses últimos vinte anos. Graças ao truque das redes
sociais, já tenho 400 novos amigos, mas todos eles virtuais, falsos como uma
cédula de 15 reais.
Com um olhar no andar de cima,
aposento final cada vez mais próximo, constatei uma coisa: na geografia da
cabeça do ser humano, quando o desmatamento da amizade se torna crítico, aí vem
a morte e nos leva para os verdes campos, onde diz a lenda que reencontraremos
todos os velhos amigos numa pracinha aconchegante, com banquinhos de madeira e
frondosas árvores refrescantes para se bater um bom papo, contar excelentes
mentiras, gozar do prazer de estar com quem a gente tem empatia, mesmo que seja
um sujeito rabugento, cheio de
manias e falhas morais. Mas é amigo, e os camaradas não têm defeitos. Já os
inimigos, se não têm a gente bota, conforme reza a piada.
No dia da amizade, lembro que
o tempo transforma a vida numa chatice sem fim. A gente fica sentado num banco
sem encosto com nosso cônjuge, um par de velhos trocando silêncios, enquanto
parentes e aderentes pululam em torno, sem afeto e sem divisão de sonhos.
Nesse fim de ano, estou
esperando rever um amigo que não vejo faz mais de trinta anos. Planejamos
juntar uma meia dúzia de três ou quatro velhos amigos em torno de uma garrafa
de uísque decente para um papo rememorativo. Companheiros de adolescência,
temos muito o que recordar.
No dia da amizade, viva,
portanto, meu amigo José Walter, que hoje mora no Rio. Gente de boa cepa, cabra
meio maluco, com um enorme potencial para a benevolência. No dia do nosso papo
“mata-saudade”, vou mandar Marcos Urso botar na radiola o LP de Waldick Soriano
pra gente ouvir a “linda canção” Torturas
de amor, que foi a música tema do grande drama passional entre o locutor da
rádio Nazaré e a rapariga do “Carreté” em tempos idos, vividos e
inolvidáveis.
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