As meninas cirandeiras de João Pessoa querem fazer oficina no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar |
É
natural que assim seja. Um certo dia, o rapazinho drogado descobriu o Ponto de
Cultura Cantiga de Ninar, deixou a droga para se dedicar à música. A dona de
casa passou a fazer voluntariado no Ponto, revelou-se uma ritmista, gostou da
arte e quer mais. Quer aprender mesmo, faz oficina de percussão em João Pessoa,
diz que vai passar a técnica para outras pessoas em Itabaiana. A irmã de dona
Cassiana Roque participa de um grupo de moças que gostam de bater na lata,
tirar som do bombo e do ganzá, e ela já se engajou, depois de ter feito oficina
com o “Ganzá de Ouro”, nosso conjunto de música regional.
Chamam
isso de democratização e acesso à cultura, nessas iniciativas que cruzam o
Brasil de ponta a ponta. A ideia é criar meios para que o povo fale, cante,
grite, desenhe seus sonhos e suas vontades, como bem disse Emir Sade no
posfácio de um livro generoso que explica o que é e para que serve o Ponto de
Cultura, escrito por Célio Turino, o quase inventor dessas entidades que quase
revolucionaram a cultura do Brasil. Eu digo quase porque, depois que o Ministro
Gilberto Gil saiu do Governo, a coisa desandou, mas isso é outra história.
Essa
nova militância cultural que vai surgindo com as atividades do Ponto de Cultura
é que dá fermento para que a gente prossiga. Uma coisa com base social, vindo
de baixo para cima, sem burocracia nem pedantismo oficial, sem barreiras
ideológicas. Certo dia, um professor achou que poderia usar o espaço do Ponto
para ensinar às pessoas os segredos da matemática e da robótica. Pronto, mais
uma participação militante. Lá se incentiva o poeta novo, o ator que quer
desabrochar, o compositor, o cantor e outros artistas iniciantes, e tudo isso
tem reflexo na produção, circulação e consumo da cultura numa cidade sem quase
nenhuma opção de lazer e ambiente social sadio.
“Empoderamento”,
essa palavra que está na moda se aplica bem ao que se faz naquele espaço. O
povo se assumindo como “agente”.
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