segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

AFINANDO A ALFAIA

Na vida temos fluxos, refluxos e defluxos, gosta de dizer o velho Sonsinho, sem saber o que significa esse palavreado. Na sua especialidade, é um usurpador sem culpa, um inocente que consegue por algum tempo enganar sua plateia, dando uma de erudito, artista, poeta ou sábio. Assim sou eu, da mesma laia, querendo confundir o burrico com o asno, mas no fim aparece o jumento de orelhas abanando, como é costume e uso comum aqui na terrinha. Tem muito burro posando de poeta, tem muito cretino vestindo roupa de benfeitor da humanidade.
Hoje num tou bom, vou logo avisando aos meus dois ou três leitores. Não amanheci bom de corte. Todas as ilusões do sentido e do espírito se desmancham no ar quando a gente ta ruim de corte. Problemas familiares. Mas é o caso: o teu canto desfaz a tua dor, cantou o poeta. Vou treinar para fazer percussão e viola num encontro de artistas que vai se dar no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, dia 18 de janeiro, um sábado. Já tou afiando a alfaia. Elemento posto em tormento em meio à alegria alheia se redime. Vamos à sambada que a noite é d’água.
Não tem herói nem poeta, não tem artista nem nada. Perdida a força do que se achava bom, tirado o santo do andor, vamos caminhar em terra de homens carentes, mulheres idem com os pés inchados na rude batalha do viver/sobreviver nessa merda de mundo. Quando se toca a alfaia, ouve-se a força do profano e do sagrado e um som distante ecoa nos ouvidos de um homem sem esperança que constrói seu canto com o barro podre da depressão. Do alto de sua verborragia maluca, Sonsinho mira os pseudos eruditos e manda todo mundo lamber sabão.





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