Eu e o poeta Zé
Dantas, de Pombal, ouvindo palestra sobre literatura de cordel no Museu de São
Francisco, no centro histórico de João Pessoa. Dois coroas em um ambiente de
mais de 400 anos falando sobre uma arte que vai completar 150 anos nos sertões
nordestinos, provinda da Espanha e de Portugal do século dezesseis, com suas
narrativas de guerras, viagens e sonhos. Nesse panorama arcaico, conjugam-se
juízos de várias índoles – folclore, inspiração, cantigas de bem viver, poesia
de resistência e os derradeiros rastros da cultura de um povo em renovação. Folheto
de feira, romance, livrinhos baratos que nunca se desgastam, pendurados nos
cordões da memória e na emoção do estro.
Literatura de
cego, como era chamada no tempo de D. João III, contendo em versos singelos a
sabedoria e a cultura popular, acabou sendo mote das pelejas do cego Aderaldo,
Zé Pretinho e tantos obreiros da palavra cantada e escrita nas toscas brochuras
feitas em tipografias rudimentares. Hoje em dia, as epopeias da literatura de
cordel recebem refinação e renovação pelas mãos de novos poetas, uns com o
estilo de Gregório de Matos Guerra, feito meu compadre Vavá da Luz de Ingá,
outros tantos nem tão Boca do Inferno assim, pelo contrário, santos homens de
Deus iguais ao prezado Antonio Costta de Pilar e o pastor Sander Lee com suas
glosas, sétimas, décimas, sextilhas e carretilhas esbanjando técnica e conteúdo,
ao tempo em que consagram suas metrificações ao Deus de Jeová.
Poeta Zé Dantas
é daquela geração joia rara, autêntico metal brilhante e escasso do interior,
pelejador das trovas e quadras no mourão exuberante da poesia popular.
Ousar, eu ouso,
e como faço vibrar a corda de bardo renitente na minha cachola limitada! Mas,
em vão os influxos da arte são requeridos. Raramente aparecem, e quando surgem,
as flautas de chamar inspiração estão todas entulhadas de asnices e
despautérios. Resta só o gosto gratuito de montar pobres rimas e ser chamado de
poeta.
Há sempre o
incitante desvio de uma inspiração e seus mistérios, como se dá em quase tudo
que é metade fantasia e metade surto de loucura criadora. Aí, se acaba
produzindo um folheto. Mesmo falando de modernidade, cada folheto guarda
vestígios da tradição dos velhos poetas de gabinete. Gosto de pensar que faço
parte desse folclore vivo e vivido, embora destituído de magistralidade.
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