quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Pernambuco canta Itabaiana


A cordelista Sonia Gervásio e o poeta pernambucano Luiz Esperantivo estiveram em Itabaiana em fevereiro deste ano, quando foram diplomados na Academia de Cordel do Vale do Paraíba. Os dois confessaram-se encantados com a cidade. Ficaram hospedados no Hotel Estação Velha e, curiosos, saíram perguntando sobre a cidade e suas histórias. Pena que não temos um setor onde os visitantes possam pegar informações sobre o lugar.

De volta à sua cidade, Caruaru, Esperantivo e Sonia escreveram um folheto aclamando a terra do poeta Zé da Luz. O cordel fala superficialmente de Itabaiana. Três estrofes do trabalho:

O centro de Itabaiana
É lindo de admirar
Largo, bem arborizado,
Pra melhor se respirar
O coreto preservado
É atração do lugar.

O Hotel Estação Velha
É o ponto de repousar
Outrora foi estação
Dos trens daquele lugar
Hoje acolhe as pessoas
Que ali vão visitar.

Esta pacata cidade
Mexeu com minha emoção
Muito bela e tranquila
Ganhou o meu coração
Se eu soubesse compor
Lhe faria uma canção.

Não é bacana isso, ouvir de visitantes palavras de louvor ao seu terreiro? Afora alguns senões, erros como o de citar José Lins do Rego como filho de Itabaiana, o cordel de Esperantivo e Sonia vale pela boa intenção de louvar a comunidade, ela mesma tão inconsciente do seu valor e beleza. Tanto que, agora, deram para demolir os prédios históricos, o que é lamentável sob todos os aspectos.

Um dia vou escrever um folheto sobre Itabaiana, uma espécie de receita de como se fazer uma cidade: expulse e mate uma tribo de índios, ponha por terra seu cemitério e suas matas, chame dois ou três padres jesuítas para catequizar os remanescentes aborígenes para apagar de vez os traços de sua cultura. Misture feira de gado, cabaré, ladrões de cavalo, músicos e poetas, pau-de-sebo, babau e coco de roda, caboclinho, boi de reis e lapinha. Lambuze tudo com vaquejada, rio cheio, chefetes políticos, raros e bravos revolucionários e lambe-solas. Raspe a panela, guarde as sobras e leve para sempre com você.

No meu enredo para um folheto itabaianense, a heroína Itabaiana, uma inocente virgem de vinte anos, cai na prostituição no breve momento em que a Virgem da Conceição não estava olhando. A partir dessa “perdição”, a bela jovem só aprende a recitar o “mistério gozoso”.

Falando nisso, é bom citar o romancista português Carlos Oliveira que define a prostituição como “um bem coletivo.” A demolição da pensão da cortesã Nevinha Rica foi um atentado à coletividade.


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