“De frente pro crime” é um samba de
João Bosco, mas eu quero mesmo
falar é de lances cotidianos, eventos
desimportantes que mostram o nosso
atraso no quesito cidadania. Estava eu
sentado no banco do canteiro em frente à Associação Atlética Banco do Brasil,
em Itabaiana do Norte, olhando para o galpão onde funcionará o Ponto de Cultura
Cantiga de Ninar. Ao lado, a agência do
INSS, prédio novo, vistoso, nas cores oficiais da instituição que recebe as
pessoas prestes a se aposentar. Paradoxalmente, não tem rampa de acesso para
cadeirantes ou pessoas com dificuldade de locomoção. Vi quando o senhor de
bengala desceu os degraus com dificuldade. Para todos os efeitos, aquele
cidadão simplesmente ignora os direitos da pessoa com deficiência, e o
Instituto Nacional de Seguridade Social faz que não é com ele. Não está traçado no código de ética do poder
essa coisa básica de respeitar os direitos humanos. Nem a sociedade se toca pra isso. Direitos humanos no Brasil é sinônimo de
protetor de bandidos! A falta de moral e
o excesso de malandragem, esses os gargalos principais da pátria amarela, verde
e azul.
Outra velhinha, outro ser insignificante para o
INSS, tentava descer os degraus, depois de sofrer as agruras da burocracia na
agência. Um cidadão passou ao seu lado. Nem ao menos olhou, quanto mais
oferecer ajuda. A anciã chegou à calçada e seguiu em frente, contornando alguns
buracos estrategicamente dispostos para
quebrar a perna de algum desavisado. Ao
passar no galpão do Ponto de Cultura, a delicada senhora tapou as narinas, ao
aspirar a fedentina dos coliformes e lama podre do riacho que corta a cidade,
passando justamente naquele local. Uma cloaca no centro da cidade. O problema
está afeto à Prefeitura , setores sanitários e Ministério Público. Os responsáveis
mostram-se esquivos, como tudo que é lesivo, pérfido e desleal. Os pequenos
interesses politiqueiros e pessoais botam cortina de fumaça nesses absurdos.
Ao lado, um bar e um domicílio. Do bar sai o dono
enxotando um gatinho preto com a vassoura. No mesmo instante, um cão magérrimo
e sarnento arrasta suas dores pela rua, em busca de comida. A vida injusta
tirou a força e a esperança do cachorrinho. Ele segue mancando, sem confiança,
para um futuro irrevogavelmente funesto. Vai morrer sem assistência, talvez a
pauladas por tentar roubar um pedaço de carne. Em sentido contrário, vem o
senhor de meia idade sem olhar para os lados, distraído, pensando nos seus
humildes e irrelevantes problemas pessoais.
Não dá fé do cachorro, do gato, da velhinha, dos buracos ou do rio de
lama. Indigência, miséria e privação,
injustiça e sacanagem governamental passam ao largo. Ninguém percebe. Vive-se
no caos que já faz parte do cotidiano da coletividade. A indignidade não afeta
a consciência daquelas pessoas. E o
futuro a Deus pertence, diz o padre na igreja.
Ninguém é exatamente culpado. Somos todos nós,
acorvadados, cúmplices. Naquele riacho fétido estão misturados nossos sucos
gástricos, nossas fezes. Indiferença e pusilanimidade. Co-participação na
desordem geral. Quando estacionei o carro, quase caí em um imenso buraco ao pé
da calçada. Uma boca de lobo aberta, pronta para me quebrar a canela. Cadê o cara que é pago por mim para proteger
o espaço coletivo? A sociedade civil tem um papel crucial. Só alguns poucos
abnegados ainda fazem um esforço estéril para valer os direitos de todos. A
maioria, como diz compadre Marcos
Veloso, “o que têm na cabeça não é muito diferente do que têm no intestino”.
“De frente pro crime” é um samba de João Bosco, mas eu quero mesmo falar é de lances cotidianos, eventos desimportantes que mostram o nosso atraso no quesito cidadania. Estava eu sentado no banco do canteiro em frente à Associação Atlética Banco do Brasil, em Itabaiana do Norte, olhando para o galpão onde funcionará o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Ao lado, a agência do INSS, prédio novo, vistoso, nas cores oficiais da instituição que recebe as pessoas prestes a se aposentar. Paradoxalmente, não tem rampa de acesso para cadeirantes ou pessoas com dificuldade de locomoção. Vi quando o senhor de bengala desceu os degraus com dificuldade. Para todos os efeitos, aquele cidadão simplesmente ignora os direitos da pessoa com deficiência, e o Instituto Nacional de Seguridade Social faz que não é com ele. Não está traçado no código de ética do poder essa coisa básica de respeitar os direitos humanos. Nem a sociedade se toca pra isso. Direitos humanos no Brasil é sinônimo de protetor de bandidos! A falta de moral e o excesso de malandragem, esses os gargalos principais da pátria amarela, verde e azul.
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