terça-feira, 27 de outubro de 2015

Mais fuleragem de Biu Penca Preta




Quando eu falo que esse Biu Penca Preta é um maluco doideira mala, a galera não acredita. Estava eu na aprazível e abandonada cidade Itabaiana do Norte quando encontro esse Biu no beco da merda, atual Rua Meira de Vasconcelos. O bicho vinha com jeitão de gambá: fedendo e avinhado.
--- Tou procurando Didi do Correio – disse o maluco.
--- Procurando o carteiro num dia de domingo, com a cuca cheia de mé de tubiba? Pra que?
--- É porque, com essa cachaça que ta dentro de minha cabecinha, só chego em casa pelo correio – respondeu o pinguço.

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Penca Preta foi funcionário do Departamento de Estradas de Rodagem. Ficou nos anais da repartição como um dos mais inativos, indolentes e negligentes do quadro de servidores da autarquia. Num determinado dia, o engenheiro pediu a transferência de Severino Penca para outro distrito. O outro chefe, sabendo da malandragem do servidor Biu Penca Preta, respondeu por telegrama: “Aqui só tinha uma vaga para um vagabundo vg e essa eu mesmo ocupei PT Saudações”.

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Eu e minha turma dos anos 70 fomos fregueses de carteirinha da pensão de Madrinha Nevinha Rica, um prostíbulo respeitável onde reinava mais gentileza e ética do que na Câmara dos Vereadores.  Em troca de meia garrafa de Pitu e um prato de feijão verde, Nevinha Rica mandou Biu Penca Preta pintar um cartaz para colocar na sala de visitas: “Embora não pareça, o ambiente é familiar”.

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Estava compadre Biu Penca tomando sua refeição de caldo da caridade, primeiro lugar contra ressacas em geral, quando adentra ao gramado de Nevinha Rica o vistoso e basbaque elemento alcunhado por Tiá.
--- Vamos almoçar, Tiá?
Tiá já foi puxando a cadeira e se abancando.
--- Ôxe, agorinha mesmo! Tou com uma fome de anteontem!
E Biu, colérico:
--- Tiá, deixa de ser ignorante e mal educado. Quando a gente convida pra almoçar, é pro cabra dizer: “Não, muito obrigado!”. Desapareça da minha frente e vá aprender a ser um cavalheiro, seu desgraça!

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Deu-se que Biu se deu mal com alguns condimentos da sopa de Nevinha, foi parar no Hospital. A primeira visita que recebeu foi de uma irmã de caridade, a freira Mocinha de Jesus, uma santa mulher que gostava de fazer filantropia. A freirinha chegou na enfermaria, aproximou-se da cama de Biu com uma sacola na mão.
--- Seu Severino, eu trouxe uma coisa que o senhor gosta muito e que faz tempo que não come. Adivinhe o que é?
E Biu, safado:
--- Irmã, uma coisa que eu gosto e que nunca mais comi... só se for priquito!

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João Corninho era zelador da rodoviária. Irmão de Biu Penca Preta, o famoso cabeça de navio. Apareceu um senhor do Recife, com algumas malas. João ajudou o viajante, que em troca lhe deu dez cruzeiros. Antes, observou:
--- Rapaz, tu és feio que só a necessidade. Este cabra foi feito na forma de fazer marmota! Vou te dar cinco pela ajuda e cinco pela feiúra.
João recebe o pagamento e avalia:
--- Se o senhor visse meu irmão Biu Penca Preta, dava era vinte!

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Essa quem contou foi Marcos Veloso Vovô, acontecido com Walter Munganga, locutor da Rádio Difusora Nazaré, do meu compadre e conterrâneo Ivo Severo. Walter arranjou uma namorada em Recife, por correspondência. Carta vai, carta vem, com o detalhe: quem escrevia as cartas de Walter era o próprio Veloso, já que o locutor não tinha muita paciência com as letras.
Depois de muita troca de cartas, Walter indaga de Marcos:
--- Veloso, e meu namoro, como vai? Nunca mais recebi carta da namorada do Recife.
--- Seu namoro? Acabei, faz tempo!
--- Acabou? Por que?
--- Ela veio com uma historinha de casamento, e como sei que tu não se amarra nesse negócio, resolvi dar por encerrado o namoro antes que virasse noivado.

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Biu Penca Preta nunca foi de acompanhar eleição, mas aconteceu uma briga feia na cidade. Campanha pra prefeito. De um lado, Josué Urubu Rei e do outro, o Padre João. Biu torcia pelo Padre.
No dia da eleição, começou a apuração na Câmara. O povão no sol quente, torcendo pelos seus candidatos. Biu tomava sua caninha, descontando o tempo da lei seca que a Justiça Eleitoral decretava. O padre começou a perder nos votos. Biu perde as esperanças e se manda pra rua da Palha, onde morava, curtir a derrota do seu candidato. Passando na Rua Floriano Peixoto, o locutor Raminho do Bode pergunta:
--- Biu, quem vai na frente?
E Biu, arretado e já avinhado:
--- É minha pica quem vai na frente!

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