“Um homem sem chifres é um animal indefeso”, acredita Ameba,
um cafajeste com alguns princípios, conforme ele mesmo admite. A seguir, resumo
da conversinha com esse energúmeno, conforme definição de outro desclassificado,
um certo Maciel Caju.
“Sou mentiroso desde garoto. Meu apelido era “Primeiro de
Abril”. Viam em mim um talento precoce para a política, advocacia ou
publicidade. Terminei seguindo a carreira de vagabundo. Acredito que o trabalho
atenta contra o bom senso e o bom gosto humano. Confesso que ando tão quebrado
das finanças que, se o diabo aparecesse agora pra comprar minha alma por cem
reais, eu venderia. O Maciel Caju acha o preço muito elevado, inda mais o diabo
não compraria uma mercadoria que já lhe pertence.
Os meus inimigos naturais são o chaleira, o polícia e o
burocrata. Os seres que me comovem são as mulheres, por isso eu me dedico a
proteger essas frágeis criaturas, excetuadas as lésbicas, as freiras e as
chefas. Obedeço cegamente às mulheres. A minha esposa ameaçou me deixar, se eu
continuasse a beber em mesa de bar. Jurei pra minha nega que nunca mais me
sentaria numa mesa de bar para beber. E cumpri a palavra: daí por diante
comecei a só beber em pé, no balcão. Depois das fêmeas, o que mais adoro é a
insofisticável água que bem-te-vi não bebe, porque só o homem afinado com o
derivado do álcool molha a palavra, espanta a tristeza e batiza o padre.
A propósito de relacionamento, digo e reafirmo que homem não
trai, homem se distrai. O homem que por infelicidade tiver que bater na mulher,
esse será contado no rol dos imbecis. Nunca se deve bater em uma mulher – ela pode
gostar. Com minha aptidão para a publicidade, pensei numa frase arretada:
“Mulher é que nem “Elma Chips” – impossível comer uma só.” E mulher feia, já
sabe, é quem nem violino: vira a cara e passa a vara. Digo e repito que mulher
é bem de necessidade pública. Sou casado, e daí? Cavalo amarrado também come
capim. Outro conselho: seja prevenido e leve camisinha até para velório. Mulheres
são geralmente frágeis e sentimentais.
Chamam-me de pernóstico e mentiroso, mas sou bastante considerado
na terra onde minha mãe me inaugurou e aprendi a ser pobre. Meu pai era um
guarda civil que depois foi promovido a porteiro do cabaré de Madame Preciosa,
mas nunca assumiu. Isto é, jamais assumiu a paternidade. Volto a dizer:
considero a cachaça a oitava maravilha do mundo e sou absolutamente contra a
lei seca, porque aumenta o número de acidentes. Motivo? Depois de encherem o
chifre, os maridos passam o volante para as mulheres. Por precaução, meu amigo
Sonsinho só toma caipirinha sem álcool. E pra não arriscar, sem limão, sem
açúcar e sem gelo.
Outra raça que odeio, o falso. Segundo um evangelho apócrifo
que nunca foi encontrando, o traidor Judas não morreu, que traíra não morre
nunca. Foi visto pela última vez na cidade Itabaiana do Norte tentando arrumar
um emprego de baba-ovo na Prefeitura, e por lá deve ter ficado por falta de
trinta dinheiros para a passagem, pois, segundo dizem, vivia enforcado.”
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