Totinha |
Li na internet ontem: “saia de sua egoidade”. O
autor intelectual do neologismo não foi identificado. Fica aqui meu
reconhecimento. Gosto das pessoas que não se conformam com a mesmice e acabam
mudando, pelo menos as palavras.
As minorias representativas, dadas as condições
objetivas atuais do Brasil, não são bem vindas. Suas falas são mal
interpretadas, seu comportamento é censurado. Nós estamos nos transformando num
país conservador e, pior, odiento. Os caras guardam rancor até na hora da
morte. Desejaram o inferno pro Eduardo Dutra, aquele gaúcho que foi diretor da
Petrobras e morreu semana passada. Pesquisa indica que a metade do povo
brasileiro quer ver bandido morto. Mas, antes, adorariam se torturassem o
acusado. Como
diz o Tom Zé: “Que porra!”
Só se salvam os que correm por fora, os
alternativos, o povo que vê o mundo com o filtro da simplicidade e imaginação.
Sem amarras ideológicas, sem raiva, sorvendo a vida com prazer e loucura. Sem
estar nem aí pra o vizinho, o polícia, o chefe, o prefeitinho, o juiz, a madame
fresca ou o machão e sua psicose evidente. Acredito nessa parte da humanidade,
homens e mulheres lutando contra o preconceito, incompreendidos,
ridicularizados, perseguidos e desprezados.
Conheci um cara desses, um com estilo próprio. Fazia
o que tinha vontade. Soltava as frangas no terreiro dos lobos e comia todo
mundo: as frangas e os lobos. O carnavalesco Totinha, morreu ontem na cidade
Itabaiana do Norte. Morreu, talvez, de cachaça, cigarro e tira-gosto. E de
alegria. De tristeza também, que todo maluco animado deve ter suas melancolias
escondidas. Totonho era enfermeiro profissional. Passava o ano todo juntando
dinheiro pra fazer sua fantasia de passista na Escola de Samba Imperatriz, onde
desfilava com vestimentas entre Madame Satã e Madame Preciosa. “Fechava a
avenida”, afastava os problemas com seus turbantes dourados e saiotes
indecorosos e invadia o carnaval, desinibida, extravagante e feliz.
Outro maluco, esse do lado trevoso, anuncia que
hoje o mundo vai se acabar. De acordo com a organização cristã eBible Fellowship,
sediada na Filadélfia, EUA, o mundo acabará hoje, dia 7 de outubro de 2015. Segundo
o líder do grupo religioso, Chris McCann, a resposta para isso está na própria
Bíblia. O mundo acabou mesmo foi pra meu compadre Totinha, grande Ojê do
Egungum, Toju Obá, mestre do Candomblé e rei do samba no gueto. Nunca mais a
Imperatriz vai ver seu grande Kimbanda adivinhando o samba no pé e a fé no
regozijo de estar vivo e ardendo feito fogo de liamba na cuca do vampiro doidão.
Ogunhê! (Salve Ogum e seu povo).
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