O plano de voo para o dia 25 de outubro é inaugurar
o estúdio da rádio “vai à força” na casa de Marcos Veloso, em um quarto onde
ele guarda suas tralhas e de onde se pode ouvir o vizinho chamando todo mundo
de “miséria”, quando bebe pinga, o que acontece invariavelmente todo dia. A
ideia é ensaiar e gravar um programa chamado “Reunião”, ou Miscelânia, para a
Rádio Web Zumbi dos Palmares.
Por ser o dia do meu natalício, o plano de voo
contempla a proposta de se enxugar um litro de bom e honesto uísque enquanto
gravamos o piloto desse programa que tem como proposta não ter proposta alguma.
É juntar três ou quatro sujeitos em torno de uma mesa com um microfone no
centro e conversar abobrinhas durante uma hora.
O mediador do programa deve ser um cara antenado,
bom condutor de ideias absurdas e conflitantes, e capaz de arrumar em seu
devido lugar o que aparecer de sonho, humor, devaneio e fantasia, além de ser
elemento disciplinador para evitar os excessos de palavrões e outras fuleragens
do gênero nesse tipo de tertúlia movida a álcool. O âncora também deve ser um
cara capaz de exercer as tarefas correlatas de apaziguador de vizinho chato,
para evitar interferências desabonadoras
do caneiro ao lado, parede e meia com o estúdio. Isto é, não temos ninguém
qualificado, portanto o programa seguirá sem mediador, mas com a convicção de
querer ser um modelo diferente desse rádio previsível, chato e picareta que se
faz na Paraíba do Norte.
Para se meter numa empreendimento desses, você
precisa ter um bom motivo. Nem precisa ser bom, apenas bonzinho. Pode ser por
vaidade, ser ouvido por outras pessoas, desejo de ser admirado, pelo desafio de
fazer algo diferente, ou impressionar alguém para obter alguma vantagem. No meu
caso, é pra passar o tempo fazendo um troço de que gosta desde menino. Mas,
mesmo amadoristicamente, fazer rádio exige certa dedicação. É um desafio, não
deixa de ser. E tem que produzir, dedicar um pouco de tempo para pensar o
roteiro. Sou burro demais para fazer isso na base do improviso. Mesmo na
“reunião” anticonvencional ao vivo e sem cortes, vou chegar munido de recortes
de jornais e coordenar algumas ideias mínimas para papear com os manos Beto
Palhano, Dalmo Oliveira e Marcos Veloso. Tem tudo pra dar em merda, mas, o bom
é isso. Às vezes, jogar merda no ventilador nem é contraproducente. Chega a ser
até uma proposta interessante. Ou não.
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