Matuto de Jessier Quirino fala francês |
Eu aqui acabando de ler um
conto de Carlos Cartaxo no seu livro “Contatos”, lembrei da assembleia dos
poetas de cordel que vai rolar neste sábado, dia 11, na Academia Paraibana de
Letras. Na programação, informa-se que haverá coffe break. Pedi aos céus paciência e ao mestre poeta Sander Lee
um pouco de desafetação. Ele é o mestre de cerimônia e anfitrião dos poetas.
San explicou que o evento terá presença de pessoas de “bom tom”, acostumadas
com ambientes finos e cerimoniosos, a par com o que há de mais adequado nas
quatro estações do ano em festas aparatosas.
Enquanto isso, eu ria de
braços dados com a ironia ao pensar na cara do poeta matuto Bob Motta, chamado
para fazer parte no workshop do
compadre gravurista Josafá de Orós. Com cara de clown, fico tentando processar essa basbaquice toda, imaginando meu
compadre Vavá da Luz adentrando ao hall
da academia cheia de experts em
literatura de roceiro capiau e tendo que se enturmar durante o coffe break, depois de um private meeting com a mais fina flor dos
babaquaras engravatados. Sim, logo após teremos um coffe end, durante o qual rolará happings e tour
artístico.
Com indiferença e audácia,
poetas dos bares brindam com seus drinks no
play ground da Academia, sob o olhar
severo de Augusto dos Anjos, top model de
muitos daqueles trovadores. O must do
evento será o show de declamações
sobre a casa onde estudou José Lins do Rego, com música de fundo tocando play-back de repinicado de viola.
Eu posso? Não posso tentar ser
o que não sou. Sou amostrado não, meu irmão! Ponho-me a favor de reinventar
tudo, mas vai com calma que o santo é de barro. Meu roteiro não joga fora as
regras da sobrevivência no mundo social, mas esbarra no formalismo sem
cabimento e outros pedantismos. Prometi ao meu compadre Sander Lee ser forte e
não avacalhar sua festa, mas esse deboche eu não perderia. Sou daqueles chatos
que perdem o amigo mas não desperdiçam a facécia.
Compadre Bob Motta é entendido
em matutês e garante que lanche, almoço e derivados chama-se “caldo da caridade”,
“rega bofe”, “cumiduria”, “valha-me Deus” e “ração”.
Sobre matuto falante, pega bem essa de Aristeu Bezerra: “Certa vez,
Ivanildo Vila Nova cantando com João Paraibano (1952-2014), aproveitou-se do
seu vasto conhecimento e lhe fez uma censura: “Você só canta Sertão, peba e cerca de vara”.
João Paraibano utilizou a sua intuição e foi brilhante na resposta:
“E você só canta Hitler
Fidel Castro e Che Guevara
Eu pego um saco de peba
Sacudo na sua cara
Você fica encabulado
Pega a viola e dispara.”
Fidel Castro e Che Guevara
Eu pego um saco de peba
Sacudo na sua cara
Você fica encabulado
Pega a viola e dispara.”
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