Em cima desse planeta azul do sistema solar vivem
dois bilhões de pessoas que não querem fazer nada. Por não ter o que fazer e
nem vontade, esse pessoal, uma parte dos tais desocupados, criaram o Movimento
Nacional dos Sem Vontade. Trata-se do primeiro movimento social sem mobilidade
alguma. De moto-próprio, os sem vontade não acionarão a motricidade em nenhum
caso. Tudo paradão, é a palavra de ordem.
Ah... mas também tem os teóricos do
movimento. Em um certo dia de meia apatia, um dos líderes escreveu o manifesto:
A sociedade
brasileira viveu anos e anos de dominação dos com vontade. Isso impossibilitou
que os preguiçosos, depressivos, vagabundos e indiferentes tivessem o direito
fundamental de mandar tudo à merda e dormir sossegados. Por essa razão, faz-se
necessária uma mudança na ordem das coisas que contemple os que não estão nem
aí, os alienados, os desligados e apáticos. Por políticas especiais que
facilitem o direito de todos de ficar na sua, sem ser chamado de coxinha,
reacionário e retrógrado.
O Movimento dos Sem Vontade declara-se solidário ao Movimento dos
Inimigos dos Pagodeiros e Afins, Movimento Peristáltico e Movimento Uniformemente
Variável, ao mesmo tempo em que acusa o Movimento Mais ou Menos Parados, uma
dissidência dos Sem Vontade, de tentar dividir a pasmaceira.
“Nós só queremos o direito de ter acesso ao controle remoto da TV e
desligar o mundo”, diz um dos ativos militantes. Ativos, é força de expressão. “Nossa
plataforma é tão evidente que nem precisamos nos levantar da rede para
explicar. Daqui a uns 500 anos, ou mais, a humanidade terá compreendido nossas
teorias, ou não. Uma pequena minoria apática deverá comandar o mundo, depois
que todos começarem a desempenhar os seus papeis históricos na vida: comer,
dormir e ler porcarias como esse blog do Leão”, assinala desatentamente um
militante. “Quanto mais sofisticadas e civilizadas forem as pessoas, mais
capazes serão de ficar à margem do rio, sem intervir no seu curso”, filosofou.
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