A galera do "faz de conta". Eu com Jacinto, Marcos Veloso e Thiago Alves. Veloso escreveu uma peça chamada "No mundo do faz de conta" e Jacinto é o intérprete. |
Aos sessenta anos, o sujeito não pode perder os
poucos amigos que lhe restam. Corre o risco de morrer sem ter quem lhe pegue na
alça do caixão. Por essa razão, estou sendo condescendente com meus poucos
camaradas. Se a gente consegue fazer novas amizades, dessas sólidas e bem
conforme nossos princípios e formas de ver o mundo, aí já é gol de placa. Sempre fui meio estranho nesse lance de
círculo de amizade. Os parceiros de mesa de bar e alguns raros colegas de infância
se resumem a uma meia dúzia de três ou quatro. Faz parte do meu caráter um
certo isolamento.
Morando em João Pescoço há mais de dez anos,
aqui conheci uns cabras e umas cabritas mais ou menos, de sorte que acrescentei
à minha lista de amigos figuras como o baiano velho Dalmo Oliveira e sua querência
Fabiana, o ator Jacinto Moreno, o radialista Ricardson Dias e quem mais? Não lembro de mais ninguém que eu possa
chamar de amigo, aquela pessoa com quem você compartilha uma grande novidade,
uma grande piada, uma grande cena, uma grande sacada ou um insignificante e
prazeroso simplesmente jogar conversa fora que quebre um pouco sua solidão
filosófica-existencial-comunicacional. Os demais conhecidos são de outras eras,
aqueles e aquelas cujas vidas seguiram em paralelo e hoje somos próximos,
vivendo na mesma cidade e mantendo a mesma amizade datada de mais de quarenta
anos, em média.
Manter as amizades é uma arte. Do meu jeito um
tanto chato, vou conservando esse clube restrito. Olho em volta, percebo o
distanciamento normal da nova geração. Cada um com sua galera, é a ordem
natural das coisas. A minha gloriosa geração começa a dar sinais de perda do
brilho, aproximando-se perigosamente do último minuto do segundo tempo. Urge
manter o time unido para não sair de campo desacompanhado.
Por outro lado, o apreço que se tem por um
colega de muitos anos também se acaba. Dia desses mandei às favas um sujeito de
minha terra, conhecido desde quando éramos muito jovens. O pulha procedeu de forma canalha, mostrou-se
calhorda e velhaco. Aliás, não mostrou esse seu lado safado, apenas reafirmou.
É preciso desculpar os semelhantes por suas eventuais falhas de caráter, mas
esse cara me encheu as medidas e decidi desconvidar o bicho para meu enterro.
Também não é bem vindo onde eu estiver, seja num recinto público ou privado.
Tirei do Facebook e da minha lista de companheiros.
É como diz o comediante Xoxola: “Vê se me esquece,
carniça!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário