Saí
da leitura do livro "Jogadores de ilusões", do mestre José Bezerra Filho, com pena da minha frouxa pena
e inveja boa da vida em festa que desponta dessa obra, porque o que vi foi
escrita com sabor de doce de jaca em calda ou xarope de caldo de cana e pão
doce. O livro traça o roteiro do ego do dramaturgo autor de “Enquanto não
arrebenta a derradeira explosão”, no embalo dos seus queixumes de menino pobre
que conseguiu pular o muro da exclusão social, virou escritor, teatrólogo,
musicista e cineasta.
Em
dado instante da vida, aos setenta e cinco anos, o mestre José Bezerra Filho vê
chegar o outono na cabeça embranquecida e nas lembranças de muitos temporais.
Quer viver o aqui e agora. “Estou na idade de plantar pé de coentro porque sei
que vou colher daqui a quinze dias; não tenho mais tempo para plantar um pé de
jaca da qual não irei colher os frutos”, disse ele em meu programa de rádio.
Não condeno quem coloca seus desejos e interesses em primeiro lugar.
Os
castelos que erigi sozinho jazem no abandono. As jaqueiras que um dia plantei,
umas deram frutos, outras não. Os limoeiros, as laranjeiras que cresceram com
meu incentivo entusiasta e minha cota de terra fértil, continuam produzindo
sementes.
Semeador contumaz, adquiri o
costume de deitar sementes na terra para fazer germinar, como na parábola do
Mestre J. C. Umas sementes caíram entre pedras, foram comidas pelas aves,
queimaram ao sol. Outras, entretanto, caíram em boa terra, brotaram e
cresceram. “Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça”, disse J. C. à multidão. Esses
grãos que brotaram produziram cem arrobas de trigo, que por sua vez se
multiplicaram ao infinito. Não planto para comer hoje, nem guardo para amanhã.
No leque azul das minhas alegrias, anoto contente tantas colheitas, e por elas
continuo a criar e plantar para que seja mais ameno meu calvário e as minhas
dores não sejam tão lancinantes quando não puder mais revolver a terra no meu
roçado de sonhos.
Nesse tema de agricultura social,
lembro um homem que é exemplo de cidadania e generosidade. Hélio da Silva é um
paulista que cultivou com as próprias mãos e de forma totalmente voluntária
mais de 16 mil árvores na beira do rio Tiquatira, na zona leste de São Paulo.
As motivações de Hélio para a empreitada são puramente
altruísticas: deixar um legado para a cidade onde viveu por tantos anos. Seu desejo é que as próximas
gerações não só desfrutem da área verde, mas também se inspirem com sua atitude.
"O João Pedro [meu neto] um dia vai falar pro filho dele: seu bisavô
plantou isso aqui. E provavelmente meu bisneto vai falar pro filho dele a mesma
coisa. Talvez isso estimule, talvez algum deles resolva seguir com esse
trabalho”, contou Hélio.
Assim é dividida a humanidade, entre os que plantam coentro e
os que plantam jaqueiras.
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