Fato palpável a olho nu
É a nudista mostrando o cu
Juro que não era meu propósito escrever
pornografia, mas foi o que saiu ontem, dia da bailarina, quando tentei escrever
um poema sobre a mulher que dança profissionalmente. Depois desse verso
libertino, nada mais saiu da cachola.
Agora, confesso que não entendo porque me
veio a necessidade de escrever uma poesia sobre as bailarinas no seu dia. Não
conheço, não fui apresentado nem lembro de nenhuma bailarina. Tampouco domino a
arte do bailado. O que diabo faz então a bailarina no meu subconsciente de
poeta insuficiente?
Olha, minha gente, agora recordo o trabalho
do magnífico Chico Buarque, “Ciranda da bailarina”. Conhece não? Deve ter sido
isso, essa vontade que é de todo mundo, de ser perfeito como os passos mágicos
da bailarina, parecendo levitar no palco iluminado. Esquecer os defeitos no
camarim, olvidar os vícios, as maldades, a sordidez do dia-a-dia. Esconder as
marcas de pereba na perna, o medo de cair, de girar infinitamente. Sabe aquele
pensamento safado quando você vê o “cofrinho” da madame que entra na igreja na
missa das sete, aquela visão libidinosa que lhe desconcentra na hora santa? A
bailarina está livre desses pequenos pecados. A bailarina de Chico jamais teve
primeiro namorado nem passou aquele filminho da sua vida no último momento.
“Reparando bem, todo mundo tem pentelho, só a bailarina que não tem. Problema
na família, quem não tem? Só a bailarina não tem.”
O cronista aqui é um cara desorganizado, que
gosta de correr riscos. Não o risco calculado da bailarina no seu “cabriolé”
que custou tanto esforço, horas e horas de treino e dor. Reparando bem, todo
mundo tem, e quem tem, tem medo. Até a bailarina no momento do “arabesco”, a
posição em que ela sustenta seu corpo numa só perna, estendendo a outra para
trás em frágil e harmonioso equilíbrio. Verdade verdadeira é que todos nós
queiramos ser bailarinos, que a suavidade e elasticidade desses moços e moças nos
convida a passear pelos sonhos de perenidade, agilidade e perfeição.
Não lembro se foi Luiz Fernando Veríssimo o
autor de crônica que li sobre o sonho de consumo de todo mundo: ter à disposição um sujeito chamado “Cicatriz”, forte, cara feia de lutador de box, corajoso e
matreiro, para resolver nossos pepinos. O metido a valentão pisou no seu calo?
Chama o “Cicatriz” pra dar uma lição no safado. Ta com neura de encarar a barra
pesada de uma rua escura na periferia? Tenha não, que o “Cicatriz” ta na
retaguarda. Não sabe mais o que fazer para negociar com seu agiota, cada vez
mais força bruta? “Cicatriz” pode ter uma conversinha com o malandro usuário.
Daí eu acrescento à fantasia, para alargar a zona de conforto: ser um (a)
bailarino (a).
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