O
cronista pernambucano Samarone Lima escreveu o pequeno tratado do grande
tabacudo. Ele diz que todo mundo tem um amigo ou conhecido, autêntico tabacudo.
“O tabacudo é uma figura que poderia ser estudada pela sociologia, filosofia,
antropologia, endoscopia, fotografia etc”, diz Samarone. Mas, o que é um
tabacudo, onde vive, como se reproduz?
Amiga
minha declarou que eu vivo no mundo do faz de conta. Oscilei entre o abatimento
e aceitação. Terminei por concordar. Três horas da madrugada, refletindo sobre
esse meu hábito de arar concreto, quebrar moinhos e aguar flores de plástico,
fiz um poeminha e cheguei à conclusão de que sou mesmo um tabacudo.
Tabacudo
é uma pessoa com grande interesse por projetos sem futuro e empenhados em bater
a cara na parede pensando que vai salvar o mundo, quando na realidade o mundo
inteiro está escarnecendo dele. No pensar de Samarone, o verdadeiro tabacudo é
o sujeito abilolado, leso, abestalhado e donzelo. O dicionário informal ensina
que tabacudo é a pessoa otária, sem noção das coisas, babaca, imbecil. Existe,
entretanto, diferença entre o retardado igual a Sonsinho e o tabacudo. O
retardado tem problemas neurológicos que o impedem de ver com clareza a
realidade. O tabacudo distorce as coisas, transforma o real em um mundo do faz
de conta, igualzinho como aquela minha amiga me vê.
É
claro que me declaro, irresistivelmente, devaneador e utópico. Tem alguma coisa
de poético nessas vidas assim abiloladas e sem muita ancoragem no mundo real.
Por isso não dou certo nos negócios e nos podres poderes, mas me considero um
tabacudo em busca de uma sociedade que não existe e talvez nunca será
realidade. Gosto de ser assim, por isso me nego a perder essa delicadeza com
que os idealistas tratam seu comprometimento com a humanidade. Portanto,
declaro e conclamo que vivo mesmo no mundo do faz de contas, mas esse tipo de
gente é necessária para esse mundão falido.
Quer
uma prova? Geralmente, esse povo tabacudo é quem faz o chamado Terceiro Setor,
que, com pouquíssimo dinheiro e doação de trabalho voluntário, está resolvendo
os problemas que o governo e sua crônica ineficiência e desinteresse não
consegue solucionar.
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