Enquanto
a revolução cultural não acontece no Brasil, os produtores de cultura continuam
mendigando atenção. Senão vejamos: amanhã, dia 7 de junho, haverá um evento
cultural na Câmara dos Vereadores de Itabaiana, às 20 horas. Teremos lançamento
dos livros dos professores Jandira Lucena e Carlos Cartaxo, culminando com
apresentação do monólogo “As cartas de Anayde”, com a atriz Georgina Furtado.
As três produções, livro e espetáculo, exigiram muito talento, dedicação,
criatividade, horas de estudos, de ensaios, dinheiro e ralação em trabalho de
equipe. No fim, dá até uma angústia quando a gente percebe que, para mostrar
esse trabalho cultural totalmente gratuito, precisamos ir atrás de um público difuso,
indiferente. Nossa plateia será de uns 40 ou 50 gatinhos pingados, entre
parentes dos artistas, alguns amigos teatristas locais e poucos alunos levados
pelo meu ilustre irmão professor Luiz Antonio e o compadre Severino Lourenço,
também preocupados em fazer com que todo esse universo cultural chegue ao jovem
que, numa cidade sem nenhuma opção cultural de qualidade, se liga apenas na
cultura de massa da TV e rádio, com seu lixo musical.
Nomes de
altíssima qualidade e quase anônimos em sua terra, iguais ao compositor Adeildo
Vieira, estarão presentes na festa da cultura que homenageia os 39 anos do Grupo
Experimental de Teatro de Itabaiana. Sobre esse grupo de teatro amador, de quem
Jandira Lucena foi uma das fundadoras, escrevi umas palavrinhas ontem, durante
a fisioterapia, mas esqueci o papelote na clínica. O grupo quase quarentão anda
meio devagar, com a justificativa óbvia de que a maioria dos componentes foi
embora e os que ficaram, de porrada em porrada, acabaram por desistir da arte
cênica. Estamos tentando sobreviver produzindo em parceria com o pessoal do
Coletivo Dramático de Mari, que monta o espetáculo “Mari, Araçá e outras
árvores do paraíso”, texto meu.
Enfim,
esse espetáculo teatral-literário de amanhã, domingo, é mais uma alucinação
coletiva de gente que produz arte e sonho, algo tão poderoso na vida das
pessoas que explica porque a gente salta no abismo, confiante de que o
paraquedas vai abrir, mesmo sem paraquedas nenhum. Se emocionar nem que seja um
espectador, já será suficiente para pagar as dores e o estresse de quem cria.
Ao pessoal do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, envolvido na produção, nossos
agradecimentos. Para o parceiro Carlos Cartaxo, com quem dividimos cena e sonhos
por mais de três décadas, salva de palmas pelo seu livro que lançará também na
ocasião, e por sua vida dedicada à arte.
Ajudar a
produzir momentos como esse é um antídoto para a vida áspera que a gente leva.
De qualquer forma, vale a pena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário