sábado, 6 de junho de 2015

Eu fico aqui pensando...


Enquanto a revolução cultural não acontece no Brasil, os produtores de cultura continuam mendigando atenção. Senão vejamos: amanhã, dia 7 de junho, haverá um evento cultural na Câmara dos Vereadores de Itabaiana, às 20 horas. Teremos lançamento dos livros dos professores Jandira Lucena e Carlos Cartaxo, culminando com apresentação do monólogo “As cartas de Anayde”, com a atriz Georgina Furtado. As três produções, livro e espetáculo, exigiram muito talento, dedicação, criatividade, horas de estudos, de ensaios, dinheiro e ralação em trabalho de equipe. No fim, dá até uma angústia quando a gente percebe que, para mostrar esse trabalho cultural totalmente gratuito, precisamos ir atrás de um público difuso, indiferente. Nossa plateia será de uns 40 ou 50 gatinhos pingados, entre parentes dos artistas, alguns amigos teatristas locais e poucos alunos levados pelo meu ilustre irmão professor Luiz Antonio e o compadre Severino Lourenço, também preocupados em fazer com que todo esse universo cultural chegue ao jovem que, numa cidade sem nenhuma opção cultural de qualidade, se liga apenas na cultura de massa da TV e rádio, com seu lixo musical.

Nomes de altíssima qualidade e quase anônimos em sua terra, iguais ao compositor Adeildo Vieira, estarão presentes na festa da cultura que homenageia os 39 anos do Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana. Sobre esse grupo de teatro amador, de quem Jandira Lucena foi uma das fundadoras, escrevi umas palavrinhas ontem, durante a fisioterapia, mas esqueci o papelote na clínica. O grupo quase quarentão anda meio devagar, com a justificativa óbvia de que a maioria dos componentes foi embora e os que ficaram, de porrada em porrada, acabaram por desistir da arte cênica. Estamos tentando sobreviver produzindo em parceria com o pessoal do Coletivo Dramático de Mari, que monta o espetáculo “Mari, Araçá e outras árvores do paraíso”, texto meu.

Enfim, esse espetáculo teatral-literário de amanhã, domingo, é mais uma alucinação coletiva de gente que produz arte e sonho, algo tão poderoso na vida das pessoas que explica porque a gente salta no abismo, confiante de que o paraquedas vai abrir, mesmo sem paraquedas nenhum. Se emocionar nem que seja um espectador, já será suficiente para pagar as dores e o estresse de quem cria. Ao pessoal do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, envolvido na produção, nossos agradecimentos. Para o parceiro Carlos Cartaxo, com quem dividimos cena e sonhos por mais de três décadas, salva de palmas pelo seu livro que lançará também na ocasião, e por sua vida dedicada à arte.

Ajudar a produzir momentos como esse é um antídoto para a vida áspera que a gente leva. De qualquer forma, vale a pena.


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