domingo, 21 de setembro de 2014

POEMA DO DOMINGO


A FEIRA DE ITABAIANA E O BEM-TE-VI

Já eu costumo dizer
Que pobre não passa fome
Na Feira de Itabaiana
Com pouco dinheiro come
Macaxeira e batata
Por isso honro o seu nome
Nego enche o abdome
Naquele cair da tarde
Porque tudo entra “no queima”
E o preço baixo arde
Quando o homem pobre compra
Sua “feira” sem alarde
De fato não é covarde
A Feira da minha terra
Pela mão do agricultor
Desce o produto da serra
Milho, farinha, beiju
E a triste fome soterra
O bom cabrito não berra
Diz o dito popular
Mas o povo da caatinga
Tem na arte de falar 
Sua grande valentia
É o jeito de abalroar
O poeta popular
Faz do verso a sua arma
Cabra forte, sem frescura,
Que desconhece o carma
Cada folheto que canta
A dor do povo desarma
A sua arte alarma
Prospectando cliente
Vai-se fazendo uma roda:
Gente ruim, gente decente,
Menino, velho, doutor,
Ateu, anarquista e crente
Seu cantar emoliente
Amolece o coração
Vai tocando cada alma
Aquela doce canção
Um circunstante decora
Um verso pra sedução
Depois eu volto a visão
Para a Feira de fato
Como é que coisa tão feia
Faz delicioso prato
Se juntar à fava branca
Abro a boca e dou um “trato!”
Minha origem é o mato
Ainda lendo Rousseau
E pra quem torce o nariz
Uma banana eu dou
Em Itabaiana é assim:
Se bateu, cabra, levou!
Sei que saudoso estou
Da minha terra tão bela
Aonde o bem-te-vi
Roubou a tinta amarela
Pra enfeitar sua roupa
E completar minha tela...

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