Pode ser chamado de
intertextualidade, colagem literária ou o que seja. Trata-se de uma técnica de
redação que eu gosto de praticar para o progresso de minha criatividade, mas
que deve ser levado em conta como uma brincadeira, um joguinho de palavras, um
lance literário que deve ser aceito nos seus devidos termos, enquanto arte.
Consiste em você pegar um monte de palavras, até sem nexo entre si, para formar
um texto. Por exemplo, outro dia aproveitei o catálogo de uma editora gaúcha, a
L&PM, e montei uma redação com os títulos dos livros publicados. A editora
até gostou da ideia, mandou mensagem agradecendo.
Semana passada, sem
assunto para uma crônica, abri aleatoriamente o Dicionário de Ideias Afins.
Caiu na palavra-chave “sofrimento”. Pesquei todas os substantivos, verbos e
adjetivos relacionados e montei um texto com essa série de palavras afins. Saiu
um chororô, lamúria total.
No final, dei a chave
para o entendimento da brincadeira, mas meus leitores não entenderam, ou pelo
menos alguns deles. Amiga minha perguntou porque eu estava tão triste,
acabrunhado e perturbado. As amizades sinceras têm esses cuidados. Para ela,
não se tratava de uma composição lúdica. Seria pedido de socorro de um sujeito
encalacrado em alguma ilha de solidão e depressão. Não caiu a ficha, talvez por
inabilidade minha.
Portanto, senhoras e
senhores leitores da Toca, meus três ou quatro fiéis companheiros dessas minhas
viagens, não estou prostrado, abatido, abandonado, ressabiado, desamparado,
magoado, apagado, desolado, pesaroso e oprimido. Só um tanto ou quanto liso.
“Homem só presta bêbado, liso e apaixonado”, diz a regra da fuleiragem,
refletindo de certa forma o sentido absurdo da vida. O velho Leão é apenas uma
sombra do que outrora foi, por isso não fica mais bêbado nem apaixonado. Só
economicamente quebrado. E isso não é colagem.
Chega-se a uma certa
idade em que a gente renuncia ao vínculo emocional. Despertamos para o fim da
vida estranhamente sóbrios diante das verdades inalienáveis. Assunto para uma
crônica mais séria, essa sim, refletindo minhas futilidades filosóficas.
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