Todo cronista, cedo ou tarde, acaba escrevendo
uma crônica sobre a crônica que ele não escreveu, mas deveria ter escrito. É
clássico. Nestas crônicas, o malandro vai enrolando o leitor, faz juras de amor
e promessas, promete alhos e bugalhos, mas no fim não diz é nada com nada. Na
verdade, enrolar o leitor é a essência da crônica. Em maior ou menor grau, é
sempre disso que se trata. Como o cronista não é especialista em coisa alguma,
ele nunca terá algo importante pra dizer. Se o poeta é um fingidor, como escreveu
Fernando Pessoa em seu célebre poema, então o cronista é – no máximo– um
mentiroso.
Isso que vai aí acima é o começo de uma crônica
de Victor da Rosa para o Diário Catarinense. Não sou malandro, por isso vou
confessar que hoje não tem crônica, por absoluta falta de assunto. Nesses
casos, eu vou no Wikipédia, saber o Santo do dia. Hoje é dia de São Roberto
Belarmino, um doutor da Igreja Católica, totalmente desconhecido. Não tem
Ibope, como se diz por aqui.
Andei pesquisando, tem umas estratégias para
manter o interesse do leitor. Uma delas é ser meio palhaço, inventar lorotas,
dizer besteiras engraçadas. A outra é ser um tanto polêmico, pegar o leitor
pelo lado emocional. Uma das minhas crônicas que mais rendeu comentários dos
leitores foi quando eu falei sobre o racismo da doutrina espírita.
Hoje, tou meio que cinza. Não sei como segurar o
leitor, porque sem graça e indisposto para defender temas polêmicos. Por isso,
peço: não me abandonem! Este velho escriba está cansado, pálido e aflito,
procurando em vão os heróis da beleza, da bondade, da verdade e da justiça no
horário eleitoral. Naquelas criaturas exóticas pedindo votos e jurando que são
anjos de candura, vejo minha própria ânsia dominadora de ser admirado, ser lido
e comentado, elevando a auto estima que é o elemento primário de nosso instinto
de sobrevivência. Por isso que temos blogs na internet e abrimos contas nas
redes sociais, para publicar fotos onde os amigos comentam: “Lindo!” “Espetacular!”
“Você está cada dia mais jovem!”
Alguém já disse que as redes sociais são o
paraíso dos bajuladores. Conheço um rapaz que todo dia, pela manhã, posta uma
flor branca, dedicada ao chefe. “Para o senhor, para dar sorte no seu dia”,
escreve o desavergonhado puxa-saco. Entretanto, isso já vem de longe. O
chaleirismo é uma arte praticada por grandes figuras da História, com a mesma
cara-de-pau dos aduladores comuns. Algumas vezes, acertaram no elogio. O grande
músico Mozart disse sobre o jovem Beethoven: “Esse rapaz é um assombro. Prestem
atenção a ele, pois ainda fará com que o mundo fale a seu respeito por toda a
eternidade”. Alexandre Dumas: “Depois de Deus, Shakespeare foi quem mais criou”.
É no círculo familiar onde os elogios beiram às raias do sacrilégio. Jane, a
irmão de Franklin, atingiu o extremo de intensidade bajulatória quando
escreveu: “Não é sacrilégio comparar meu irmão ao bendito Salvador”.
Afinal, essa crônica tem a pretensão de marcar o
Dia Nacional do Bajulador, na esperança de receber algum comentário elogioso,
ou pelo menos o silêncio respeitoso. Todo homem ou mulher tem sua virtude
particular. Sem ser adepto de queimar incenso ou gastar vela com santo
ordinário, ando seguindo essa filosofia do bem viver, de procurar virtudes
escondidas naquele patife de primeira. Sem, no entanto, seguir a plebe rude nas
suas caminhadas e carreatas atrás dos seus candidatos. Esse povo aplaude sem
saber o que está aplaudindo.
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