Escrever assusta
Escrever assusta. No entanto, é algo tão
simples, tão bobo, tão "natural"... Por que escrever, então, assusta,
causa pânico, medo, deixa a alma fria e os pés trêmulos? O medo, o pânico, o
temor, então, revela-se. Tudo isso está menos no fato de escrever, mas no como
escrever e sobre o que escrever. Quem escreve, um dia disse um poeta noiado,
depois de ter fumado muita maconha: "escrever revela a alma". Tem
gente que tem medo de que outras pessoas a enxerguem por dentro por meio da
escrita. Não apenas seus segredos mais profundos e impronunciáveis, mas também
sua cafonice, burrice, breguice, seu moralismo e atraso mental. Há psicólogos
espalhados por todo lado, é verdade. No entanto, escrever nunca foi tão chato.
Escrever uma redação, por exemplo, para uma prova como o ENEM é preciso ter
estômago. A escrita, neste caso, é avaliada por inquisidores medievais. Seus
instrumentos de tortura revelam-se na grafia trêmula e desconexas de alguns -
talvez, a maioria - dos alunos. Para uma redação desta natureza exige-se de
cara a velha trindade: Coesão, Coerência, Claridade das ideias.
Portanto, no ENEM, a regra é: abaixo o tesão. Lembra lá a tal redação do miojo
do ano passado? Aquela parte da redação - onde o "moço" ensinava a
fazer um miojo - era a fuga do "normal", da regra, da chatice, era a
parte do tesão, do prazer que desperta ao escrever. Imagina, então, se numa redação
de hoje uma mocinha resolve na prova, no parágrafo de desenvolvimento,
"falar" de sua vida sentimental e de sua primeira transa com um
desconhecido dentro de um busão? - REPROVADA, por mérito! Escrever assusta.
Mas, só assusta quando a escrita é pedida, é exigida. Quando a escrita é dada,
oferecida, ofertada, ela se torna divertida, animada, debochada. E aí é onde se
revela menos a alma. Alma, poeta, disse-me uma vez um filósofo: "A alma é
nada".
Blog do João
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